Dormir apenas três ou quatro horas por noite e ainda assim acordar bem disposto pode parecer impossível para a maioria das pessoas. No entanto, cientistas da Universidade da Califórnia em São Francisco, nos Estados Unidos, identificaram uma mutação genética rara que pode estar por trás dessa capacidade incomum.
O estudo, publicado nessa segunda-feira (5/5) na revista Proceedings of the National Academy of Sciences, encontrou uma nova variação no gene SIK3 associada à necessidade reduzida de sono em humanos.
Segundo os autores, essa e outras mutações identificadas ao longo dos anos indicam que algumas pessoas conseguem manter as funções reparadoras do corpo durante o sono em um ritmo mais eficiente.
“Nossos corpos continuam trabalhando quando vamos para a cama, se desintoxicando e reparando danos. Mas nessas pessoas, todas as funções que nossos corpos realizam enquanto dormimos podem simplesmente funcionar em um nível mais alto”, explica a coautora Ying-Hui Fu, neurocientista e geneticista, em comunicado.
Um sono curto e natural
A pesquisadora começou a investigar o tema ainda nos anos 2000, ao analisar o genoma de uma mãe e uma filha que relatavam dormir seis horas ou menos por noite, sem apresentarem sinais de fadiga ou prejuízo cognitivo.
A equipe identificou uma mutação rara em um gene que regula o ritmo circadiano, o “relógio biológico” do corpo. A descoberta levou outras pessoas com hábitos de sono semelhantes a procurarem o laboratório.
Hoje, os pesquisadores acompanham centenas de indivíduos que naturalmente dormem menos e já identificaram cinco mutações em quatro genes diferentes ligados a esse padrão.
Testes com camundongos
No estudo mais recente, a equipe buscou uma nova mutação no DNA de uma dessas pessoas. Eles encontraram uma variação no gene SIK3, que codifica uma enzima ativa entre os neurônios.
Ao modificar camundongos para carregar essa mutação, os cientistas observaram que os animais dormiam, em média, 31 minutos a menos por dia.
A mutação parece tornar a enzima mais ativa nas sinapses cerebrais. Isso pode influenciar o sono ao estimular a homeostase cerebral, processo pelo qual o cérebro se “reorganiza” durante o descanso.
Apesar de os mecanismos exatos ainda estarem em investigação, os cientistas acreditam que entender essas variações genéticas pode levar a avanços no tratamento de distúrbios do sono. “Encontrar mutações suficientes em pessoas que dormem pouco naturalmente pode nos ajudar a ter uma ideia melhor de como o sono é regulado”, diz Fu.
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