Poucas áreas na tecnologia têm avançado tanto quanto a inteligência artificial — a IA vem se desenvolvendo em usos simples e até em situações complexas, como na medicina. Além da ajuda nos diagnósticos e análise de exames, a cada dia o recurso vem sendo treinado para ser mais útil aos profissionais de saúde, diminuindo o risco de falhas humanas.
“Hoje, temos uma capacidade muito maior de evoluir e de trabalhar nesse ponto. A IA está transformando todo o mercado, especialmente o da saúde”, afirmou o engenheiro de computação Antônio Benchimol, da PUC-Rio, durante o X Congresso Internacional de Oncologia D’Or, realizado no Rio de Janeiro nos dias 4 e 5 de abril.
Benchimol apontou três pilares nos quais a IA vem promovendo avanços na área médica: precisão diagnóstica, personalização de tratamentos e otimização de recursos. O uso da tecnologia para personalizar terapias, segundo ele, ainda tem muito a evoluir, mas já mostra impacto positivo no setor.
Ele citou ferramentas de transcrição automática, robótica cirúrgica e monitoramento remoto de pacientes como exemplos práticos que já estão em uso. Também é destaque o impacto da IA na desospitalização e no cuidado de pessoas com doenças crônicas, áreas em que startups têm investido cada vez mais.
Além dos sistemas especialistas e do aprendizado de máquina, Benchimol comentou como redes neurais profundas vêm impulsionando modelos mais sofisticados, capazes de gerar textos, imagens e interações por linguagem natural. “Hoje, todo mundo convive e utiliza IA direta ou indiretamente no seu dia a dia”, disse.
IA na prática médica
- A inteligência artificial já faz parte da rotina médica, apoiando diagnósticos e decisões clínicas com base na análise de exames e dados de pacientes.
- Em cirurgias, sistemas robóticos guiados por IA aumentam a precisão dos procedimentos e reduzem o tempo de recuperação.
- Na gestão da saúde, algoritmos ajudam a prever surtos, planejar campanhas de vacinação e monitorar indicadores populacionais.
Prevendo resistência a antibióticos
A inteligência artificial está sendo testada, inclusive, para prever a resistência de bactérias a antibióticos. A tecnologia pode otimizar diagnósticos, personalizar tratamentos e melhorar a gestão hospitalar, além de apontar desafios técnicos e éticos no uso desses sistemas.
Daniel Araujo Ferraz, chefe de IA da Rede D’Or São Luiz, apresentou, no Congresso, o RESIST.IA, projeto em desenvolvimento para auxiliar médicos na escolha mais eficaz de antibióticos. A ferramenta analisa grandes volumes de dados hospitalares e gera respostas detalhadas sobre padrões de resistência bacteriana.
“Perguntamos quais antibióticos não tiveram boa eficácia contra o Proteus mirabilis em 2023, por exemplo, e o sistema gerou uma lista precisa”, explicou Ferraz. Em outro teste, o modelo analisou dados de unidades de terapia intensiva em Recife, Aracaju e Salvador e produziu gráficos sobre a resistência da bactéria Pseudomonas aeruginosa.
Ferraz destacou que a IA não substitui a decisão médica, mas funciona como apoio para aumentar a precisão dos tratamentos. “A decisão ainda cabe ao médico. A IA oferece informações, mas não pode ser usada isoladamente”, afirmou.
Um dos principais desafios é garantir que o sistema forneça respostas confiáveis. Para isso, especialistas da Rede D’Or validam os dados gerados e alimentam o modelo para aprimorar sua acurácia. A expectativa é que o RESIST.IA evolua para auxiliar na criação de diretrizes hospitalares.
O projeto ainda está em fase inicial, mas já demonstra potencial para transformar a infectologia hospitalar. “A IA está mudando a maneira como lidamos com resistência bacteriana. O desafio agora é integrar essa tecnologia ao dia a dia dos médicos de forma eficiente e segura”, concluiu.
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