A manicure Beatriz Mora, hoje com 39 anos, é acostumada desde a infância a carregar consigo uma toalhinha para secar o excesso de suor de suas mãos. “Minha primeira lembrança é da escola, minha folhas ficavam feias no caderno de tanto que eu suava”, lembra a moradora de Curitiba (PR).
O excesso de suor nas mãos e nos pés levou Beatriz a adaptar toda a vida. Trabalhando como manicure, ela usa luvas em tempo integral e a cada cliente nova, quando troca o par, sua mão está coberta de suor. “Às vezes, as clientes brincam que dá para ver a gota de suor escorrendo para o meu braço”, conta.
O que leva ao excesso de suor?
A condição de Beatriz é chamada de hiperidrose e costuma atingir a palma das mãos e a planta dos pés. Estima-se que de 1 a 3% da população brasileira conviva com ela. O suor excessivo persiste mesmo no frio, intensificando-se com as temperaturas altas e também com situações de estresse.
A dermatologista Vanessa Nunes, também de Curitiba, explica que o distúrbio surge de glândulas sudoríparas écrinas hiperativas, concentradas em mãos e pés. “Fatores como genética, ansiedade e alterações hormonais, especialmente na adolescência, disparam a produção anormal de suor e casos graves podem até descamar a pele”, alerta a médica.
Impactos invisíveis
Além do desconforto físico, a condição gera constrangimento. Um estudo publicado na revista Anais Brasileiros de Dermatologia revelou que 72% das mulheres com hiperidrose evitam atividades sociais. Foi o que aconteceu com Beatriz na adolescência.
As mulheres são mais afetadas: um estudo do Ambulatório de Dermatologia do Hospital do Servidor Público Municipal de São Paulo analisou 1,5 mil pacientes com idades entre 18 e 65 anos. Desses, 73 foram diagnosticados com hiperidrose primária (4,8% do total) — 57 eram mulheres (78%) e 16, homens (21%).
“Além de causar desconforto, constrangimento e dificuldades nas relações interpessoais e profissionais, a sudorese excessiva pode facilitar o surgimento de infecções fúngicas, como micose e candidíase, e bacterianas, além de agravar quadros de dermatite de contato e atópica”, explica a dermatologista Fabíola Rosa Picosse, da regional de São Paulo da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD/SP).
Suor também nos pés
A hiperidrose também atinge os pés de Beatriz. Por isso, ela usa sapatos fechados mesmo no verão para evitar o constrangimento de acumular sujeira neles. Na adolescência ela teve mau odor nos pés e, por isso, o cuidado se tornou diário, com o uso de talco (que ela usa dois tubos por mês) e lavagem constante com vinagre e bicarbonato de sódio para evitar a proliferação de bactérias.
“A hiperidrose aumenta as chances de bromidrose, como chamamos o chulé. Por isso, ao diminuirmos a quantidade de suor, diminuímos as chances de proliferação bacteriana e, consequentemente, o mau odor. Mas, dependendo da causa, podem ser indicados tratamentos específicos para o mau odor, como o uso de produtos com antibióticos”, explica a dermatologista Elisangela Pegas, também da SBD/SP.
Tratamentos e limites
Há possibilidades de tratamento para a condição, mas elas costumam ser limitadas. As opções vão desde o uso de antitranspirantes com cloreto de alumínio específicos para uso nas mãos e nos pés até a aplicação de toxina botulínica, que bloqueia nervos temporariamente.
Outros procedimentos, como a cirurgia de simpatectomia (um corte de nervos específicos), podem diminuir a hiperidrose nas mãos e nos pés, mas o paciente corre o risco de ter sudorese compensatória em outras áreas do corpo.
Para especialistas, terapias combinadas e acompanhamento psicológico são essenciais para romper o ciclo de ansiedade e suor excessivo.
Neste cenário, Beatriz se adapta. “Já tentei todas as receitas caseiras do mundo e vários produtos, mas eles diminuem muito pouco o meu suor. Poderia até fazer o tratamento com botox ou a cirurgia, mas tenho medo de que isso limite o movimento da minha mão, que é literalmente minha ferramenta de trabalho”, conclui Beatriz.
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