Um grupo de pessoas se reuniu no Rio de Janeiro na última segunda-feira (31/3) para celebrar o golpe militar de 1964, que instaurou um regime autoritário no Brasil por 21 anos. A festa foi promovida pelo Clube Militar, comandado pelo general da reserva Sérgio Tavares Carneiro, que chamou a tomada de poder pelos militares de “movimento democrático”.
O evento, realizado anualmente, cobrou R$ 100 reais de cada participante. Além da refeição, servida na sede do clube localizado no bairro da Lagoa, ainda existia a expectativa de que o desembargador aposentado Sebastião Coelho discursasse no almoço.
A presença de Coelho, contudo, foi cancelada por “inadiáveis motivos profissionais”. Dias depois, o advogado e ex-desembargador foi detido após interromper uma sessão do Supremo Tribunal Federal (STF), que discutia a denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por tentativa de golpe de Estado.
Na abertura do evento, o general Sérgio Tavares Carneiro voltou a defender a ação dos militares na década de 1960, por meio de um comunicado. O texto também foi assinado pelos presidentes dos clubes Naval e de Aeronáutica, almirante João Afonso Prado Maia de Faria e brigadeiro Marco Antonio Carballo Perez, respectivamente.
“A rememoração da revolução, de 31 de março de 1964, reitera o compromissos dos clubes Militar, Naval e da Aeronáutica, com o Brasil e sua democracia. O farol que guiou os veteranos, aqui reunidos, ao longo de suas carreiras a serviço da pátria”, disse o general após um logo discurso, onde negou que o Brasil tenha vivido longo período de repressão política, restrição de liberdade e abuso contra os direitos humanos.
O Metrópoles questionou o Clube Militar se os presidentes dos clubes Naval e de Aeronáutica estiveram presentes no almoço em comemoração ao golpe militar de 1964. A associação não quis responder.
Enquanto o evento acontecia no Rio de Janeiro, o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) divulgou uma análise sobre os 61 anos da ditadura militar no Brasil. No levantamento, o órgão apontou que a maioria dos mortos e desaparecidos durante o período eram estudantes ou ativistas contrários ao regime dos militares.
Salários de mais R$ 30 mil
Na reserva desde 2009, o presidente do Clube Militar, Sérgio Tavares Carneir, recebe uma remuneração atual de R$ 33.833,42 brutos. Valor um pouco abaixo do aposento de R$ 35.916,80 do chefe do Clube Naval, almirante Prado, que se aposentou em 2015 por questões de saúde.
Já o brigadeiro Perez, que preside o Clube de Aeronáutica, recebe dos cofres públicos R$ 36.586,32 mensais. Apesar de ter entrado na reserva em 2014, ele ocupa um cargo comissionado na Caixa de Financiamento Imobiliário da Aeronáutica, com salário de R$ 18.469,94.
Desde 2014, os três clubes já receberam mais de R$ 588 milhões de recursos públicos, a maioria via Ministério da Defesa, segundo dados do Portal da Transparência. O Clube Naval foi a associação que mais recebeu verba pública durante o período, com R$ 336.642.800,76.