Um exame aprovado em janeiro deste ano nos Estados Unidos pretende encurtar o tempo para identificar sinais de autismo em bebês. Desenvolvido por cientistas da Universidade Emory, o teste utiliza rastreamento ocular e fornece resultados em apenas 15 minutos.
A técnica avalia pistas importantes e permite identificar sinais que caracterizam o transtorno do espectro autista (TEA) em 80% dos casos, com maior precisão especialmente em níveis altos de necessidade de suporte.
A avaliação, chamada EarliPoint Evaluation, foi criada pelos pesquisadores Warren Jones e Ami Klin — neurocientista brasileiro e diretor do Marcus Autism Center, principal centro de tratamento do autismo nos EUA, localizado em Atlanta.
O objetivo do teste é antecipar os diagnósticos para permitir que as crianças tenham suporte e atendimento desde as primeiras etapas de seu desenvolvimento.
“A maioria dos pais de crianças com autismo relatam ter tido preocupações antes do segundo aniversário, mas a idade média de um diagnóstico de autismo nos EUA é de 4 a 5 anos”, diz o neurocientista Warren Jones.
Como é feito o teste?
O exame é destinado para bebês com idades entre 16 e 30 meses (1 ano e 4 meses a 2 anos e meio). No teste, eles assistem 14 vídeos curtos enquanto as câmeras captam a movimentação dos olhos. O sistema analisa, em tempo real, os padrões de atenção das crianças, comparando reações típicas e atípicas.
“Medimos a maneira como as crianças olham e aprendem sobre o mundo a uma taxa de 120 vezes por segundo usando tecnologia de rastreamento ocular. A maneira como crianças com autismo vivenciam os vídeos é notavelmente diferente: elas olham para outros lugares, muitas vezes para objetos em vez de pessoas, e perdem milhares de oportunidades de aprendizado social”, diz Klin em entrevista à Universidade Emory.
Estudos indicam que crianças com desenvolvimento típico direcionam o olhar para rostos e interações humanas, enquanto crianças com autismo tendem a focar em objetos, ignorando elementos sociais relevantes.
O equipamento custa cerca de US$ 7 mil dólares (aproximadamente R$ 40 mil) e cada exame custa US$ 225 (R$ 1,2 mil). Ainda não há previsão de quando o teste chegará ao Brasil.
Indo além do diagnóstico
Segundo Warren, testes objetivos com biomarcadores como o rastreamento ocular são fundamentais para antecipar o acesso a tratamentos. Para Klin, o objetivo do exame além de antecipar o diagnóstico é alertar para a necessidade de dar tratamento a estas crianças que o necessitam.
“Há famílias cujos filhos testaram positivo para autismo e ainda assim não conseguem ter acesso a um diagnóstico”, afirma o médico brasileiro.
As dificuldades são ainda maiores em crianças de minorias sociais. “Crianças negras que nascem com autismo, em comparação com as brancas, são diagnosticadas mais tarde, recebem diagnósticos incorretos com mais frequência, têm muito menos acesso à terapia de desenvolvimento e às intervenções educacionais necessárias e têm o dobro da taxa de deficiência intelectual associada”, explica John Constantino, professor de psiquiatria e ciências comportamentais na Emory.
Segundo Constantino, para cada nove meses de terapia de uma criança com autismo severo, se conquista um avanço de sete pontos em seus testes de QI.
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