O ex-prefeito de Querência, Fernando Gorgen (União Brasil), então ocupante do cargo à época do lançamento dos empreendimentos imobiliários da AGX em parceria com o cantor Leonardo, diz que o caso “é um verdadeiro golpe que deram na população” da cidade e afirma que o dono da empresa, Aguinaldo José Anacleto, “agiu de má-fé”.
Gorgen esteve ao lado do cantor e do empresário, durante visitas ao município, em 2021 e 2022 (imagem em destaque). Hoje, tanto a AGX, quanto Leonardo, que nega ser sócio dos empreendimentos, afirmando que agiu apenas como garoto-propaganda, são alvos de ações judiciais de pessoas que compraram terrenos, mas que aguardam há quase três anos por uma resposta.
O Metrópoles revelou o caso no sábado (8/3). Um dos empreendimentos, chamado residencial Munique Smart Life, vendeu centenas de lotes sem que o terreno estivesse regularizado, tampouco aprovado pela prefeitura local ou quitado, junto aos antigos donos. A área permanece sem qualquer intervenção, é alvo de ação de reintegração de posse e a AGX fechou os pontos de atendimento na cidade.
“Eu mostrei a cidade para o Leonardo. Fiz isso, quando ele foi lá fazer um show, meses antes. Mostrei a cidade, as oportunidades que tinham [para investir]. Não sei se ele investiu. Sei que depois ele surgiu lá com esse rapaz, o Anacleto, que se mostrava como um grande empresário. A gente [prefeito], quando vê um investidor querendo apostar na cidade, a gente não procura levantar a vida de ninguém. A gente fica é feliz”, explica Gorgen.
O problema revelado com o passar do tempo, no entanto, o fez mudar de ideia. Para o ex-prefeito, Anacleto utilizou a imagem de Leonardo para atrair a atenção da clientela, apresentando-o, também, como investidor e parceiro, e “agiu de má-fé”. “Venderam um loteamento que ainda não havia sido aprovado pela prefeitura, um verdadeiro golpe contra a população”, diz o ex-prefeito.
Veja vídeo de Leonardo divulgando o empreendimento:
“Não vejo envolvimento do Leonardo”, diz Gorgen
Ele faz questão de enfatizar, porém, que não acredita no envolvimento de Leonardo. Para Gorgen, o cantor foi usado como garoto-propaganda, apenas. Tanto, que, segundo o ex-prefeito, o sertanejo participou do lançamento de outros empreendimentos e não, necessariamente, do que está dando problema agora, mas que a imagem dele foi utilizada em todos os demais sob assinatura da AGX.
“Os dois primeiros condomínios foram tudo certo, registrados e aprovados. Depois, fizeram outro, mas venderam em forma de cotas, e isso aí, na verdade, já com má-intenção. Venderam os terrenos como cotas de participação e, quando as pessoas foram ver, acreditando que estavam comprando lotes, já era tarde demais”, expõe Gorgen.
Em resposta ao Metrópoles, o Grupo AGX alegou que o projeto do residencial Munique Smart Life não envolveu “a venda de lotes, mas sim a captação de investidores por meio de cotas dentro de uma Sociedade em Conta de Participação (SCP)”. Apesar disso, dizia-se no contrato que a área estava totalmente quitada, o que não se mostrou realidade.
Os antigos donos, um casal com mais de 80 anos, entraram com ação de reintegração de posse contra a AGX e Anacleto. Eles alegam que o empresário não cumpriu o acordo, tampouco efetuou os pagamentos, conforme o combinado. De acordo com o processo, do valor total do negócio de R$ 12,9 milhões, foram pagos, apenas, R$ 4,7 milhões, com atraso e cheques sem fundo a partir da terceira parcela, em 2023.

Leonardo investidor ou não?
Em vídeo feito à época da visita de Leonardo à cidade e publicado nas redes sociais, Fernando Gorgen o chamou de “investidor”, o que reforçou a ideia entre a população de que o cantor seria sócio e participava ativamente dos empreendimentos. Hoje, o ex-prefeito alega que o artista seria investidor do primeiro condomínio fechado da cidade, outro empreendimento sem relação com o que enfrenta problemas agora.
Veja:
“É em outra área, outra situação”, diz ele. “Eu fiquei muito feliz, na época, quando o Leonardo falou que ia ajudar a investir nesse primeiro condomínio fechado. Começaram a fazer os muros do condomínio, ele está todo fechado, asfaltado, mas a empresa [AGX] começou a dar problema. Qualquer prefeito ficaria feliz diante de um investidor em sua cidade, mas, infelizmente, a empresa se aproveitou para agir de má-fé”, expressa Gorgen.
O que diz a AGX?
Em resposta ao Metrópoles, o grupo AGX alega que a Sociedade em Conta de Participação (SCP), modelo adotado para vender cotas do Munique Smart Life, é uma “estrutura jurídica devidamente regularizada e em conformidade com a legislação vigente”.
Em relação ao processo de reintegração de posse, movido pelos antigos donos do terreno, que apontam atraso no pagamento do valor acordado, a empresa diz que não há decisão judicial definitiva sobre o caso e contesta os argumentos do vendedor da área. Segundo a AGX, ele “fixou o pagamento em sacas de soja e não aceitou a variação do índice conforme determina a lei”.
“A negociação segue judicialmente, mas não há inadimplência reconhecida e a paralisação das obras decorre da inadimplência de investidores, incentivada por calúnias e desinformação”, alega a empresa.
Sobre a participação do cantor Leonardo, a AGX afirma que ele “não tem nenhuma vinculação ou responsabilidade contratual sobre a administração e execução dos empreendimentos em Querência”. O cantor, segundo a empresa, “firmou uma parceria de publicidade, cedendo o direito de uso de sua imagem”.
“Ao firmar essa parceria, ele também apostou no empreendimento, acreditando em seu sucesso, mas não possui qualquer participação ou responsabilidade administrativa nos empreendimentos. A parceria envolveu o uso de sua imagem e em contrapartida, a participação em cotas, nos mesmos moldes dos demais clientes”, diz a AGX.
A assessoria de Leonardo nega que ele seja sócio do negócio.