Ainda era madrugada de 4 de março de 2021 quando mais de 20 agentes da força-tarefa da Polícia Civil do Rio de Janeiro, criada para combater as milícias, prenderam André Costa Barros, conhecido como André Boto, 40 anos. À época, o então miliciano era conhecido por comandar um dos grupo paramilitares mais violentos da capital fluminense. Com mão de ferro, o criminoso conduzia um esquema de extorsão a comerciantes e moradores dos bairros de Curicica, Recreio dos Bandeirantes e Campo Grande, todos na zona oeste da cidade.
Antes de ser cercado e preso, o Portal dos Procurados do Rio chegou a divulgar um cartaz pedindo informações sobre ele e oferecendo R$ 1 mil em recompensa. Mesmo atrás das grades desde então, André Boto teria “pulado o muro” da criminalidade e se tornado o mais novo contraventor carioca. Em um golpe de mestre, o ex-miliciano teria vendido seus domínios para a facção Comando Vermelho (CV). Em troca, Boto ganhou exclusividade para explorar máquinas caça-níqueis nas regiões.
Na época, a prisão foi efetuada pelo Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD) em conjunto com a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core). O novo contraventor passou a ter em seu espólio comunidades como Cesar Maia, Colônia e Terreirão, todas na zona oeste carioca. A coluna Na Mira apurou que Boto teria enfraquecido a própria milícia nestas regiões para facilitar a entrada do Comando Vermelho. Também ocorreram ordens para que vários comparsas fossem executados, sempre alegando cobrança interna. Boto ainda parou de contratar “soldados” e interrompeu a compra de armas.
Harmonização facial
Boto também é investigado pela construção de prédios da milícia. Em dezembro de 2020, policiais interditaram a construção de um prédio com 37 apartamentos que seria comandado por ele. As vendas renderiam R$ 12 milhões. Segundo as investigações, ele teria feito uma harmonização facial para tentar despistar as autoridades.
Na operação de 2021, o ex-miliciano foi preso em flagrante pelos crimes de receptação e porte ilegal de arma de fogo. Boto estava em uma Pajero blindada clonada. Com ele, foi apreendida uma pistola Glock calibre .40 e uma identidade funcional falsificada da Secretaria de Administração Penitenciária (Seap). De acordo com a DGCOR-LD, os agentes cumpriram um mandado de prisão expedido pela 1ª Vara Criminal da capital pelos crimes de tráfico de drogas, porte ilegal de arma de fogo e organização criminosa.
André também já havia sido preso em 2017, pela PRF, quando estava trazendo 3,5 mil munições de calibre 9 mm da fronteira para o Rio de Janeiro, pela Rodovia Presidente Dutra, que liga a capital fluminense a São Paulo. Com ele, estava o policial militar Bruno Cesar Macedo de Jesus, o “Bruno Bala”.