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quarta-feira, 26 março, 2025
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    HomeSaúdeComo os lockdowns da pandemia afetaram a saúde mental dos adolescentes

    Como os lockdowns da pandemia afetaram a saúde mental dos adolescentes

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    Lena (nome fictício) reluta em falar sobre os lockdowns. Como muitos outros, a universitária de 21 anos não quer ser lembrada da pandemia de Covid-19. Aqueles anos fizeram a boa aluna que gostava de ir à escola abandonar o sonho de ser professora.

    Com raiva, ela diz que a pandemia “roubou completamente as nossas vidas”. “Não podíamos mais encontrar os amigos, todos estavam apenas mexendo em seus telefones.” Em vez de jogar vôlei no clube como de costume, só lhe restou “maratonar séries de TV”. As aulas digitais funcionaram após um certo tempo, mas eram muito estressantes. “Além disso, a escola não é só para aprender”, reclama Lena. “Ninguém mais estava interessado em nós. Estávamos completamente perdidos.”

    Ela diz que conseguiu superar esse período irritante da pandemia. Contudo, algumas pessoas de sua antiga turma ou de seu círculo de amizades ficaram um pouco “estranhas ou ‘cringes’” desde então, avalia Lena.

    Isolamento, solidão e impotência

    A maioria dos jovens vivenciou o confinamento de forma semelhante à de Lena. Isso também é confirmado por estudos de longo prazo nos quais a presidente da Associação Alemã de Proteção à Criança, Sabine Andresen, desempenhou um papel de liderança.

    Muitos jovens reclamaram que suas preocupações foram ignoradas: “Não somos vistos, não somos ouvidos. Nossos interesses, direitos e necessidades recebem prioridade secundária quando se trata de decisões difíceis”, resume a pesquisadora sobre as reações mais comuns entre os jovens.

    “Isso é sobre o sentimento de solidão, de impotência, a experiência de ser completamente expulso de sua vida cotidiana regular de um dia para o outro e não saber de nada: ‘O que está sendo tirado de mim? Como posso moldar meu futuro?’. Planos para o futuro também são importantes para os jovens”, argumenta Andresen.

    Ansiedade, depressão e dificuldades cognitivas

    Professora assistente do Departamento de Antropologia da Universidade Comenius, na Eslováquia, Darina Falbová conduziu um estudo sobre os sintomas mais comuns dos lockdowns de longo prazo entre adolescentes. A conclusão dela é que o fechamento de escolas, as restrições de contato e os toques de recolher contribuíram significativamente para o aumento de problemas de saúde mental entre os jovens.

    “Os sintomas mais comuns a longo prazo incluem perda de memória, dificuldade de concentração, dificuldade para resolver problemas e para encontrar as palavras certas”, lista Falbová. Esses sintomas, segundo ela, ocorrem com frequência muito maior em mulheres. “Sintomas físicos, como redução da capacidade física e dores de cabeça, também foram mencionados com frequência”, acrescenta.

    Outros estudos mostram que, cinco anos após os confinamentos, muitos jovens sofrem de transtornos alimentares e de ansiedade e depressão. As mudanças no estilo de vida associadas ao confinamento – mais tempo de tela, menos atividade física e distúrbios do sono – também trazem impactos negativos à saúde mental e física. As mulheres relataram ainda irregularidades no ciclo menstrual, o que pode estar relacionado ao estresse e às alterações hormonais após a Covid-19, segundo a antropóloga.

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    Mas como saber quando buscar ajuda? A qualidade da saúde mental é determinada pela forma como lidamos com os sentimentos

    Pessoas mentalmente saudáveis são capazes de lidar de forma equilibrada com conflitos, perturbações, traumas ou transições importantes nos diferentes ciclos da vida. Porém, alguns sinais podem indicar quando a saúde mental não está boa. Confira
    Estresse: se a irritação é recorrente e nos leva a ter reações aumentadas frente a pequenos acontecimentos, o sinal vermelho deve ser acionado. Caso o estresse seja acompanhado de problemas para dormir, é hora de buscar ajuda
    Lapsos de memória: se a pessoa começa a perceber que a memória está falhando no dia a dia com coisas muito simples é provável que esteja passando por um episódio de esgotamento mental
    Alteração no apetite: na alimentação, a pessoa que come muito mais do que deve usa a comida como válvula de escape para aliviar a ansiedade. Já outras, perdem completamente o apetite
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    Reconhecer as dificuldades e buscar ajuda especializada são as melhores maneiras de lidar com momentos nos quais a carga de estresse está alta

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    Mas como saber quando buscar ajuda? A qualidade da saúde mental é determinada pela forma como lidamos com os sentimentos

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    Pessoas mentalmente saudáveis são capazes de lidar de forma equilibrada com conflitos, perturbações, traumas ou transições importantes nos diferentes ciclos da vida. Porém, alguns sinais podem indicar quando a saúde mental não está boa. Confira

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    Estresse: se a irritação é recorrente e nos leva a ter reações aumentadas frente a pequenos acontecimentos, o sinal vermelho deve ser acionado. Caso o estresse seja acompanhado de problemas para dormir, é hora de buscar ajuda

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    Lapsos de memória: se a pessoa começa a perceber que a memória está falhando no dia a dia com coisas muito simples é provável que esteja passando por um episódio de esgotamento mental

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    Alteração no apetite: na alimentação, a pessoa que come muito mais do que deve usa a comida como válvula de escape para aliviar a ansiedade. Já outras, perdem completamente o apetite

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    Autoestima baixa: outro sinal de alerta é a sensação de incapacidade, impotência e fragilidade. Nesse caso, é comum a pessoa se sentir menos importante e achar que ninguém se importa com ela

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    Desleixo com a higiene: uma das características da depressão é a perda da vontade de cuidar de si mesmo. A pessoa costuma estar com a higiene corporal comprometida e perde a vaidade

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    Sentimento contínuo de tristeza: ao contrário da tristeza, a depressão é um fenômeno interno, que não precisa de um acontecimento. A pessoa fica apática e não sente vontade de fazer nada

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    Para receber diagnóstico e iniciar o tratamento adequado, é muito importante consultar um psiquiatra ou psicólogo. Assim que você perceber que não se sente tão bem como antes, procure um profissional para ajudá-lo a encontrar as causas para o seu desconforto

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    Fardo adicional para faixa etária já estressada

    Mesmo antes de 2020, problemas de saúde mental já eram comuns nessa faixa etária, quando a pressão escolar, as mídias sociais, a ansiedade climática e a incerteza econômica levaram ao aumento das taxas de depressão e ansiedade, explica Falbová.

    A pandemia agravou as doenças existentes e trouxe consigo novos sintomas. Segundo a antropóloga, a ansiedade, a depressão e as dificuldades cognitivas aumentaram significativamente entre os jovens.

    Falbová diz que, durante e depois da pandemia, as preocupações e os problemas dos jovens muitas vezes não foram levados suficientemente a sério. Eles receberam menos atenção porque estavam “em menor risco de doença grave por Covid-19”. Essa postura, porém, ignorou “o impacto mais amplo [da pandemia] em sua saúde mental, educação e desenvolvimento a longo prazo”.

    Lições para a próxima pandemia

    Na ciência, na sociedade e na política, avaliações das regras adotadas na pandemia ainda estão longe de serem concluídas. Ainda assim, vistas da perspectiva de hoje, muitas medidas de confinamento soam exageradas.

    “A pandemia de Covid-19 nos mostrou que, embora proteger a saúde pública seja crucial, as consequências de longo prazo para a geração mais jovem têm sido frequentemente negligenciadas. Uma das lições mais importantes é que a saúde mental deve ser tão importante quanto a saúde física”, disse Falbová.

    Caso alguma zoonose perigosa ou gripe aviária venha causar outra pandemia, “a sociedade e os políticos devem adotar uma abordagem mais equilibrada e prudente em relação às crianças e aos jovens”, aconselha a especialista.

    “Em futuras crises de saúde, os gestores públicos devem encontrar maneiras de permitir o contato social seguro, seja por meio de atividades ao ar livre, grupos de apoio ou programas comunitários cuidadosamente estruturados”.

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