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domingo, 23 março, 2025
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    HomeBrasilComo facções usam o assistencialismo para aliciar comunidades carentes

    Como facções usam o assistencialismo para aliciar comunidades carentes

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    Apreensões recorrentes de cestas básicas vinculadas à facções criminosas, nos últimos meses, têm revelado como o crime organizado adota a prática assistencial, com doação de alimentos, remédios e outros itens de necessidade básica, como uma estratégia para conquistar a confiança, aliciar e influenciar comunidades carentes.

    Só em Mato Grosso, estado que luta para evitar o avanço das facções criminosas, milhares de cestas básicas do Comando Vermelho (CV) foram apreendidas do ano passado para cá, em diferentes cidades e regiões. O intuito da distribuição dos alimentos, segundo a Polícia Civil do estado, é sempre o mesmo: garantir o apoio e silêncio locais para dificultar a atuação policial.

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    Ação policial ocorreu em São José do Xingu, cidade que fica nas imediações do Parque do Xingu, em Mato Grosso

    Além de alimentos, agentes encontraram itens de higiene, eletrônicos e pequena quantidade de drogas
    Cestas básicas do Comando Vermelho apreendidas em cidade de Mato Grosso
    Cestas básicas do Comando Vermelho apreendidas em casa de prostituição na cidade de Pontes e Lacerda (MT), em agosto do ano passado
    Processo de doação das cestas básicas de facções criminosas apreendidas pela polícia
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    Cestas básicas do Comando Vermelho apreendidas pela polícia em São José do Xingu (MT)

    Divulgação/PC MT

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    Ação policial ocorreu em São José do Xingu, cidade que fica nas imediações do Parque do Xingu, em Mato Grosso

    Divulgação / PC MT

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    Além de alimentos, agentes encontraram itens de higiene, eletrônicos e pequena quantidade de drogas

    Divulgação / PC MT

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    Cestas básicas do Comando Vermelho apreendidas em cidade de Mato Grosso

    Divulgação / PC MT

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    Cestas básicas do Comando Vermelho apreendidas em casa de prostituição na cidade de Pontes e Lacerda (MT), em agosto do ano passado

    Divulgação

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    Processo de doação das cestas básicas de facções criminosas apreendidas pela polícia

    Divulgação

    O delegado titular da Gerência de Operações Especiais da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso (PJC-MT), Frederico Murta, explica que o assistencialismo “criminal” está presente desde a origem das organizações criminosas, não restringindo-se, apenas, ao estado. “Essa é uma tática muito comum. Geralmente, elas atuam onde o estado se faz ausente e se aproveitam dessa lacuna”, pontua ele.

    A facção paulista Primeiro Comando da Capital (PCC) também tem histórico de doações e auxílio social, como forma de angariar apoio popular, desde a sua origem. No início dos anos 2000, por exemplo, o grupo criminoso mantinha pontos de apoio a moradores de bairros carentes de São Paulo, com cadastro de famílias para receber leite, gás de cozinha e cestas básicas.

    Essa tática facilita a infiltração dos grupos criminosos no dia a dia das comunidades, além de demarcar territorialmente a área de influência e domínio. Fora isso, outra consequência direta da aproximação do crime com pessoas em situação de vulnerabilidade, por meio do assistencialismo, é o aliciamento de novos integrantes para as facções. O alvo, nesse caso, geralmente, são os mais jovens.

    Novos integrantes

    Em agosto do ano passado, a polícia apreendeu 215 cestas básicas que seriam distribuídas por uma facção criminosa em cidades do Mato Grosso, na região da fronteira com a Bolívia. O caso foi descoberto, após denúncia anônima, que informou que um caminhão cheio de mantimentos havia saído de Várzea Grande, na região metropolitana de Cuiabá, com destino à fronteira.

    O objetivo da facção com a entrega das cestas, conforme o denunciante, era ganhar a simpatia da população e recrutar novos integrantes para o grupo. Mato Grosso possui uma fronteira extensa com a Bolívia, de cerca de 730 quilômetros. Do ponto de vista do tráfico de drogas, isso torna o estado um território estratégico. Não à toa, quase todas as cidades da região têm registro de presença de facções.

    “Temos uma dificuldade um pouco maior do que outros estados, em relação ao fluxo de fronteira, mas é um problema que ultrapassa as questões de Mato Grosso. A droga que passa por aqui é droga que vai abastecer outros estados. Não vejo isso interferindo de maneira considerável no tráfico local. Temos uma situação de fronteira que é extremamente complexa”, afirma Murta.

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    Cestas em casa de prostituição

    As cestas apreendidas na região da fronteira foram encontradas, à época, numa casa de prostituição na cidade de Pontes e Lacerda. O local, conforme a investigação, pertenceria a uma facção criminosa. A proprietária não revelou a origem dos produtos. Por meio do motorista do caminhão, o delegado conseguiu chegar ao estabelecimento onde os itens foram comprados e confirmou o vínculo com a facção.

    “A prática de assistencialismo, que já se tornou uma forma de atuação das facções, é muito prejudicial para a sociedade, porque, enquanto passa a sensação de que os criminosos cuidam da população mais desassistida, aproxima as nossas crianças do tráfico de drogas e desse meio que é extremamente violento”, expôs, em abril do ano passado, o delegado Gustavo Belão, durante uma outra apreensão de cestas em Cuiabá.

    Em geral, depois de apreendidas, as cestas básicas são entregues pela própria polícia a instituições de caridade nos municípios respectivos. Esse procedimento é adotado, após autorização judicial e averiguação da validade dos itens alimentícios. Em agosto do ano passado, por exemplo, 149 cestas foram entregues a entidades de Nortelândia, cidade que fica a 229 km de Cuiabá.

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