Lideranças consideram que o processo de cassação do mandato de Glauber Braga (PSol-RJ) expôs a influência que o ex-presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) exerce na Casa. O psolista e o líder do Centrão tinham uma desavença pessoal, que costumeiramente se tornava pública com acusações e cortes de microfone no plenário.
Para congressistas ouvidos pelo Metrópoles, o parecer contra Glauber sequer seria votado no Conselho de Ética se Lira não tivesse preservado parte do seu poder. Mas o parlamentar continua com influência, tanto que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se esforça para não entrar em conflito com o congressista.
Lira presidiu a Câmara por quatro anos, entre 2021 e 2024, e tornou-se um dos mais poderoso presidentes da Casa. Foi sob sua gestão que os deputados obtiveram uma maior fatia do Orçamento Federal com o crescimento das emendas. Ele foi reeleito, em 2023, com votação recorde de 464 votos de 513 congressistas, e conseguiu eleger um sucessor, Hugo Motta (Republicanos-PB).
Na quarta-feira (9/10), o PSol traçou uma estratégia para evitar a votação no Conselho de Ética. Os parlamentares obstruíram e empurraram a análise do caso até depois das 16h. É nesse horário que está previsto início da ordem do dia no plenário, o que obrigatoriamente encerra as sessões de todas as comissões da Casa.
Mas Motta não convocou a sessão e sequer respondeu as tentativas de contato de lideranças de esquerda, que cobravam o início da ordem do dia. A chamada ao plenário só ocorreu próximo às 19h, mesmo com mais de 400 deputados com presença marcada por volta das 18h. A atitude foi interpretada como um aceno à continuidade da sessão no Conselho de Ética.
Centrão avalia que há esperança para Glauber
Como mostrou o Metrópoles, o Centrão ainda resiste a seguir com a punição ao parlamentar. Caciques desse grupo político apontam uma série de “erros” que levaram o colega à atual situação, mas afirmam que estariam dispostos a abandonar a ofensiva contra o psolista caso ele faça um gesto ao Congresso. Eles citam desde um pedido de desculpas a uma sinalização de bandeira branca com relação aos ataques ao grupo.