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quinta-feira, 13 março, 2025
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    Rim é o órgão com maior fila de transplante do Brasil. Entenda por que

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    Apesar de ser um órgão duplicado no corpo humano e poder ser retirado com o paciente vivo, o rim lidera a lista de espera por transplantes no Brasil. Das 45,3 mil pessoas que aguardam um órgão no país, 42 mil estão na fila por um rim compatível.

    O cenário é fruto de um aumento de 57,6% nos casos de doença renal crônica desde 2014. Atualmente, há 155 mil pacientes em diálise no país em consequência de diferentes níveis de falência renal, sejam temporárias ou crônicas.

    Por que há tantas pessoas esperando um rim

    A doença renal crônica é irreversível e exige tratamentos contínuos, como a hemodiálise, para substituir a função dos órgãos. Apesar de o transplante ser a melhor alternativa, apenas 5% dos pacientes conseguem realizar o procedimento.

    A maioria depende de sessões de diálise, que impactam significativamente a qualidade de vida e a rotina. Somente em 2023, cerca de 40 mil pessoas iniciaram a hemodiálise.

    “O rim é um órgão bastante suscetível a falhas, principalmente devido a doenças comuns como diabetes e hipertensão, que são prevalentes no Brasil. Essas condições podem levar a complicações renais, o que aumenta a demanda por transplantes. A fila tem crescido constantemente”, explica a nefrologista Lectícia Jorge, gerente médica na Fresenius Medical Care.

    Brasil avança em transplantes, mas fila aumenta

    Em 2024, o país realizou 6,3 mil transplantes renais, um recorde, representando 66,7% do total de procedimentos. Apesar dos números expressivos, a fila ainda é gigante.

    Entre os pacientes que estão à espera de um rim está o motorista Wagner Ganzaroli, de 53 anos. Ele faz hemodiálise três vezes por semana há um ano e foi diagnosticado com rins policísticos, uma condição que aumenta o risco de falência renal.

    O motorista descobriu a doença por acaso, ao se candidatar para doar um rim para sua mãe, que também tem a mesma condição. Após anos acompanhando a doença, em 2023 ele passou a ter vômitos frequentes que foram atribuídos à dengue.

    “Tomei vários remédios para tentar tratar a dengue, mas fui internado na UTI e descobriram que, na verdade, os sintomas eram resultado da falência dos meus rins. Desde então, tenho feito hemodiálise três vezes por semana. Como a condição é genética, ninguém na minha família pode me doar um rim”, diz ele.

    Seu sonho é passar por um transplante que o permita retomar ao que chama de uma vida normal. “Estar preso à máquina é difícil. O transplante representaria uma liberdade”, afirma o motorista. A espera, no entanto, é longa e cercada de incertezas.

    5 imagens

    Wagner tinha uma doença renal genética, o que excluiu as chances de doação in vivo

    O professor Camilo Lopes no período em que precisou de hemodiálises
    Nos intervalos entre as hemodiálises, o professor ficava extremamente inchado
    Há 3 anos ele faz o procedimento em casa, com a diálise peritoneal
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    Wagner Ganzaroli faz hemodiálise há um ano e está na fila do transplante de rim

    Reprodução/Acervo pessoal

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    Wagner tinha uma doença renal genética, o que excluiu as chances de doação in vivo

    Reprodução/Acervo pessoal

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    O professor Camilo Lopes no período em que precisou de hemodiálises

    Reprodução/Acervo pessoal

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    Nos intervalos entre as hemodiálises, o professor ficava extremamente inchado

    Reprodução/Acervo pessoal

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    Há 3 anos ele faz o procedimento em casa, com a diálise peritoneal

    Reprodução/Acervo pessoal

    Transplante de rim pode ser realizado com doador vivo

    A fila de transplantes reflete não apenas a alta demanda, mas também a complexidade do processo. Embora o processo possa ser feito com doadores vivos (já que os rins são órgãos duplos no corpo e é possível viver com apenas um), é difícil encontrar pessoas compatíveis.

    A maior parte dos procedimentos acaba sendo feita com doadores após o falecimento. E, apesar dos avanços, a conscientização sobre doação de órgãos segue sendo um entrave para salvar vidas.

    Apenas parentes de primeiro ou segundo grau do receptor podem fazer a doação, ou seja, pais, irmãos, filhos ou avós. Cônjuges também podem doar, mas é raro que sejam compatíveis. A restrição visa evitar a comercialização de órgãos.

    Camilo Lopes, de 39 anos, recebeu o rim de sua irmã. O professor nasceu com uma malformação que une os rins em um, o chamado rim em ferradura, e já na adolescência precisou retirar um dos órgãos. Em 2016, aos 27 anos, sem ter nenhum sintoma, ele descobriu que estava com falência renal e foi levado imediatamente para a hemodiálise. Foram 10 meses até o transplante.

    “Receber o rim foi como nascer de novo. É uma nova vida, a gente espera por um rim, mas também pela motivação, pelos sonhos, pelos objetivos. É como tirar a vida de um estado de pausa”, resume ele.

    A felicidade de Camilo, porém, durou apenas quatro anos. Em 2021, ele teve uma Covid-19 assintomática que o atingiu diretamente no rim, causando mais uma falência renal. “Entrei em desespero. Não queria voltar para a hemodiálise, só quem passou por isso sabe como é um lugar profundamente triste e assustador”, lembra.

    Diálise peritoneal é subutilizada no país

    Na fila por um novo rim desde então, Camilo encontrou uma alternativa na diálise peritonial, um tratamento que pode ser feito em casa e que permite mais liberdade ao paciente, que não precisa ir várias vezes por semana ao hospital.

    Nessa opção, o próprio paciente cuida da diálise: através de um catéter na barriga, as bolsas que equilibram os compostos tóxicos do corpo são encaixadas manualmente. O processo demora cerca de 15 minutos.

    A terapia imita a função do rim no organismo, mas filtra apenas uma pequena escala do sangue. Na hemodiálise tradicional, o processo é mais longo, e todo o sangue do corpo passa pelos filtros de uma máquina ao longo de horas.

    No Brasil, apenas 3,4% dos pacientes renais utilizam diálise peritoneal, modalidade mais flexível e menos onerosa ao sistema de saúde. Dados da Federação Nacional das Associações de Pacientes Renais e Transplantados (Fenapar) indicam que este número poderia chegar a 30% dos pacientes se o processo, que é custeado pelo SUS, fosse mais conhecido.

    O tratamento para a doença renal crônica, porém, só é realmente efetivo com o transplante. O procedimento oferece melhoria significativa na qualidade de vida e na longevidade dos pacientes — um indivíduo pode passar até 20 anos com um órgão transplantado.

    No entanto, a compatibilidade entre doador e receptor, com um volume tão pequeno de doação de órgãos como o do Brasil, ainda é um desafio.

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