Depois da aparição impactante ao final de Ainda Estou Aqui, vencedor do Oscar de Melhor Filme Internacional, Fernanda Montenegro volta às telonas com Vitória. Dirigido pelo genro da atriz, Andrucha Waddington, o filme conta a história real de Joana da Paz, uma mulher que desafiou o tráfico de drogas em uma favela do Rio de Janeiro.
Na trama, Montenegro vive Dona Nina, uma idosa que, cansada dos constantes tiroteios próximos à sua casa, decide agir. Após um disparo atingir sua parede, ela compra uma câmera e começa a registrar provas para denunciar o crime à polícia. No entanto, quando os traficantes descobrem sua identidade, ela se vê forçada a abandonar tudo e recomeçar sob uma nova identidade.
O grande trunfo de Vitória, além da inspiradora história de Joana da Paz, é a atuação de Fernanda Montenegro. Indicada ao Oscar por Central do Brasil (1999), a veterana de 95 anos entrega uma performance carregada de emoção, transmitindo angústia, desespero e medo apenas com o olhar. Mas também há espaço para momentos de ternura e felicidade, tornando sua interpretação ainda mais impactante.
Mesmo com as possíveis limitações da idade, Montenegro domina cada cena, adicionando profundidade à narrativa e elevando a força do filme. Dentro dos muitos acertos do roteiro assinado por Paula Fiuza e Breno Silveira — que faleceu no início da produção, em 2022 —, a presença da atriz se destaca como o maior deles.
A produção é muito bem estruturada, resultando em um filme fluido e equilibrado para o público. Os momentos de emoção, felicidade e descontração das personagens são habilmente entrelaçados, mesmo que o drama seja predominantemente intenso ao longo da obra.
Mais do elenco
Cada fala e movimento dos atores no filme são cuidadosamente planejados. A trama é conduzida pela jornada de Vitória, que toma uma atitude após perceber que a situação está fora de controle. No entanto, as reviravoltas acontecem por conta de acontecimentos envolvendo pessoas ao redor da protagonista.
Essas situações a levam, primeiramente, a comprar a filmadora e, depois, a seguir com a denúncia, após ser desconsiderada pelos policiais. Ao longo da produção, os cineastas inserem reflexões e metáforas, com destaque para o simbolismo das fitas e dos crimes captados por Dona Nina. As imagens capturadas pela filmadora são impactantes, mesmo quando vistas e ouvidas repetidamente, como ocorre na narrativa.
O trabalho de Linn da Quebrada, que interpreta Bibiana, a vizinha de Dona Nina, também merece destaque. Com uma atuação amorosa, ela exerce uma influência significativa na sequência dos acontecimentos, apesar de seu tempo limitado de tela.
Alan Rocha, no papel do jornalista investigativo Fábio Godoy, também se destaca, atuando como um elo fundamental na trama, ao lado de Montenegro. O jovem Tawan Lucas, como Marcinho, também tem um papel importante.
O filme é preciso e consegue tocar profundamente o espectador. Sua produção provoca uma gama de emoções, desde indignação até profunda reflexão. Não é exagero dizer que Fernanda Montenegro eleva ainda mais a qualidade da obra, destacando sua relevância para o cinema nacional.