A trembolona é um esteroide anabolizante de uso veterinário conhecido como o “mais forte dos anabolizantes” e se tornou uma febre entre adeptos do fisiculturismo. Embora a afirmação careça de comprovações científicas, o que é fato são os sérios riscos à saúde do uso da substância, relacionada a danos ao sistema cardiovascular, fígado e saúde mental.
A trembolona é um composto químico sintético que imita os efeitos da testosterona. Embora seja associada a um crescimento muscular em animais, especialmente em cavalos e touros, a substância é proibida para uso humano. Os produtos vendidos para fins estéticos, além de serem ilegais, muitas vezes usam a fama da substância mas são compostos por outras substâncias.
E se os efeitos são rápidos, também são seus impactos no organismo. O acetato de trembolona foi retirado do mercado há décadas por seu impacto na saúde humana, aumentando o risco de infarto, AVC, crises hepáticas agudas e ideações suicidas.
“A trembolona é o esteroide mais potente para ganho de massa muscular e força. Contudo, é também o mais hepatotóxico e cardiotóxico, além de ter impactos devastadores na saúde mental”, resume o endocrinologista Clayton Macedo, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia de São Paulo.
O que é a trembolona?
A trembolona é um esteroide anabolizante sintético derivado da nandrolona (outro anabolizante conhecido como deca durabolin). A nandrolona já é uma substância adaptada da testosterona natural com o objetivo de potencializar os seus efeitos no organismo. A trembolona, por sua vez, aumenta a aposta.
Embora seja dito que a trembolona é o anabolizante mais agressivo que existe, com efeitos cinco vezes maiores que os da testosterona, não há estudos que embasem essa comparação. Quando a substância era usada em humanos, uma análise publicada em 1976 na revista Pharmacological and Endocrinological Studies indicava um efeito três vezes maior que o do hormônio.
Para que foi criada e quando?
A trembolona, também conhecida como 19-nor-δ9,11-testosterona, foi sintetizada pela primeira vez em 1963 e foi usada em humanos, em doses muito reduzidas, até o início dos anos 1980, quando a ciência comprovou que os potenciais benefícios eram muito inferiores aos riscos do uso do esteroide.
Sua estrutura molecular é projetada para aumentar a síntese proteica e a retenção de nitrogênio nos músculos. Ela é ligada a diferentes ésteres que aumentam a duração da meia-vida da testosterona no corpo e a administração é feita em doses injetáveis, em geral em animais que participam de competições.
Tem registro na Anvisa? Para que tipo de uso?
Nenhum medicamento à base de trembolona é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para uso em humanos. Seu registro é restrito à medicina veterinária e mesmo neste contexto, a substância é controlada. Além disso, desde 2023, o Conselho Federal de Medicina (CFM) proíbe a prescrição de anabolizantes para fins estéticos.
Quais os efeitos do uso?
Não deve ser feito uso humano. Em animais, a trembolona leva a um ganho acelerado de massa muscular e força, mas também a efeitos colaterais, o que faz com que o hormônio seja usado com cautela até em touros.
Quais são os riscos do uso estético?
Segundo o endocrinologista Macedo, os efeitos colaterais da trembolona incluem hipertensão, aumento do colesterol ruim, trombose e risco elevado de infarto e AVC.
“Ela é ainda tóxica para o fígado e para o rim. Além disso, a substância suprime totalmente o eixo de produção de testosterona natural do testículo e dificulta a recuperação mesmo com a suspensão do uso”, alerta.
O endocrinologista lembra que o uso do anabolizante está ligado ao desenvolvimento de ginecomastia (crescimento das mamas em homens), em alguns casos reversível apenas em cirurgia.
A trembolona é conhecida também por provocar uma tosse específica. Em alguns casos, após a aplicação, parte da substância pode parar no pulmão, causando uma reação de tosse que pode ser acompanhada de vômitos.
O impacto na saúde mental
Distúrbios psiquiátricos também são frequentes e a droga é muito conhecida entre os usuários por levar a crises de insônia e ansiedade.
A psicóloga Bárbara Dariva, de Vila Velha (ES), alerta que a trembolona é perigosa. “Seu maior efeito colateral é em relação à saúde mental do usuário. Existem vários casos que mostram uma consequência significativa em relação à depressão, ideações suicidas e até mesmo o ato de suicídio por atletas que utilizam o esteroide”, alerta.
Irritabilidade, insônia, ansiedade, pensamentos negativos e a degeneração dos neurônios estão entre os efeitos colaterais. Isso ocorre porque a trembolona leva à morte dos neurônios associados à secreção de dopamina, hormônio associado ao bem-estar, levando seus usuários a fases de introspecção e agressividade.
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