Um novo teste de saliva, que pode ser feito em casa, mostrou ser mais preciso do que o exame de sangue tradicional para identificar homens com maior risco de desenvolver câncer de próstata.
O estudo, chamado BARCODE 1, foi conduzido por pesquisadores do Instituto de Pesquisa do Câncer de Londres e do Royal Marsden NHS Foundation Trust e publicado no New England Journal of Medicine nessa quarta-feira (9/4).
A novidade está na forma como o risco é calculado: em vez de medir os níveis da proteína PSA (antígeno prostático específico) no sangue — que podem estar elevados por vários motivos —, o teste analisa o DNA da saliva em busca de variantes genéticas associadas ao câncer de próstata. A partir disso, é calculado um “escore de risco poligênico”, que indica a chance de a pessoa desenvolver a doença.
“Uma simples amostra de saliva pode identificar os homens com maior risco de câncer de próstata de forma mais precisa do que o exame de sangue atual. Isso nos permitirá diagnosticar mais cânceres precocemente e com maior chance de cura”, disse em comunicado a professora de oncogenética e pesquisadora líder do estudo, Ros Eeles.
Câncer de próstata
- O câncer de próstata é o mais frequente entre os homens, depois do câncer de pele, segundo o Ministério da Saúde.
- Na fase inicial, o câncer de próstata pode não apresentar sintomas e, quando apresenta, os mais comuns incluem: dificuldade de urinar, demora em começar e terminar de urinar, sangue na urina, diminuição do jato de urina, necessidade de urinar mais vezes durante o dia ou à noite.
- As causas não são totalmente conhecidas, mas alguns fatores como, idade, histórico familiar, obesidade, alimentação, tabagismo e exposição a podutos químicos podem aumentar o risco.
- A doença é confirmada após fazer a biópsia, que é indicada ao encontrar alguma alteração no exame de sangue (PSA) ou no toque retal, que somente são prescritos a partir da suspeita de um caso por um médico especialista.
Como o estudo foi feito?
Os pesquisadores recrutaram 6.142 homens europeus com idades entre 55 e 69 anos, faixa etária em que o risco da doença é mais elevado. O escore genético foi calculado com base em 130 variações no DNA associadas ao câncer de próstata, descobertas a partir da análise do material genético de centenas de milhares de homens.
Os participantes com os 10% de pontuação de risco mais altos foram convidados para exames mais detalhados, como ressonância magnética e biópsia. Entre os 468 homens avaliados, 187 (40%) foram diagnosticados com câncer de próstata.
O número é significativamente maior que o percentual de diagnósticos obtido com o teste de PSA, que leva ao diagnóstico de câncer em apenas 25% dos casos com resultado alto. Além disso, o novo teste de saliva foi capaz de identificar cânceres em 118 (63,1%) homens que tinham níveis de PSA considerados normais — o que normalmente não indicaria necessidade de investigação adicional.
Outro dado relevante é que mais da metade dos cânceres detectados (55,1%) eram do tipo agressivo, que cresce mais rápido e tem maior chance de se espalhar. Em comparação, um estudo anterior apontou que o teste de PSA identifica como agressivos apenas 35,5% dos cânceres detectados.
Avanço para diagnósticos mais precisos
Além de superar o PSA em precisão, o teste genético também se mostrou mais eficaz que a própria ressonância magnética. Em 125 casos (66,8%), o câncer foi confirmado por biópsia mesmo após uma ressonância que não havia detectado nenhuma anormalidade.
“O teste genético pode se tornar uma ferramenta adicional de triagem para homens com maior risco genético ou sintomas iniciais de câncer de próstata”, disse em comunicado o professor Kristian Helin, executivo-chefe do Instituto de Pesquisa do Câncer.
Com base nos resultados, os pesquisadores acreditam que o teste de saliva pode ajudar a evitar exames desnecessários, como biópsias invasivas e tratamentos que não seriam necessários para cânceres de crescimento lento. O teste também abre caminho para diagnósticos mais precoces e personalizados.
A equipe já está desenvolvendo uma versão mais avançada do exame, que inclui variantes genéticas específicas de homens com ascendência africana e asiática. Um novo estudo com o teste atualizado já está em andamento.
Siga a editoria de Saúde e Ciência no Instagram e no Canal do Whatsapp e fique por dentro de tudo sobre o assunto!