Representantes da indústria e do agronegócio consideram que o governo Lula passou no seu primeiro “teste de fogo” na busca por melhoria na relação com o empresariado e trabalhar em conjunto contra a taxação dos Estados Unidos ao Brasil. Eles relatam que a reunião desta terça-feira (15/7) com interlocutores do presidente da República poderá pavimentar uma via permanente de diálogo entre a gestão petista e os setores da economia mais atingidos pela política externa da Casa Branca.
Os representantes dessas áreas do mercado brasileiro destacaram três pontos na reunião. Primeiramente, a postura adotada pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, que acumula o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços. Pontuaram que todos puderam falar sem limite de tempo e receberam a devida atenção do encarregado de liderar o comitê responsável por desenhar a resposta brasileira ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Outro ponto destacado pelo empresariado foi o aparte da política partidária ou fiscal. Segundo interlocutores, a carta de Trump foi abordada brevemente pelo ministro da Casa Civil, Rui Costa, citando que os temas descritos nada tinham relação com o comércio. O nome do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) sequer foi citado, assim como os recentes embates entre o mercado e o governo Lula por causa da taxação dos super ricos e de áreas da economia hoje isentas.
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Geraldo Alckmin, vice presidente da República em coletiva de imprensa
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Presidente Lula e ministro Carlos Fávaro, da Agricultura
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Bolsonaro e Trump
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Trump, Bolsonaro e Lula
Arte Metrópoles
Bolsonaro é réu no inquérito do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre suposta tentativa de golpe. Segundo Trump, a taxação ocorrerá a partir de 1º/8 caso a Corte não encerre o que o republicano considera uma “caça às bruxas” contra o aliado.
Segundo os representantes, duas sugestões foram feitas a Alckmin e demais ministros que participaram da reunião. A primeira foi um apelo para que o Itamaraty tente prorrogar o prazo para início da vigência da tarifa. A segunda é que o presidente Lula peça que, pelo menos, produtos alimentícios fiquem de fora da taxação de 50%. Guilherme Coelho, presidente da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas), chegou a expor o pedido e argumentou que produtos podem perder sua validade caso fiquem parados.
Entenda a disputa entre Trump, Lula e Bolsonaro
- Trump tem ameaçado o mundo com um tarifaço, desde o início do atual mandato, e dá atenção especial ao grupo do Brics e ao Brasil por causa das políticas multilaterais.
- No dia 9/7, o presidente dos EUA anunciou a taxação de 50% aos produtos brasileiros, a partir de 1/8. Ele pediu o fim do que considera uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil.
- Lula informou que a resposta brasileira à taxação será por meio da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica, através da qual foi criado o comitê presidido por Alckmin.
O terceiro destaque relatado pelos empresários foi o apelo do governo para que eles próprios conversem com os setores produtivos dos Estados Unidos. Foi sugerido que casa empresa dialogue com seus parceiros importadores, para que o empresariado estadunidense, por sua vez, se movimente com seus órgãos conjuntos e demovam Trump de concretizar a taxação a partir de 1/8. A expectativa do Planalto é que a própria economia estadunidense derrube a ofensiva da Casa Branca.
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O empresariado pediu que o governo tente atrasar o início da taxação, mas Alckmin sinalizou que o Planalto pretende arranjar uma solução até lá. Após a reunião, ele detalhou: “Houve uma colocação que o prazo é exíguo, e pedindo um prazo maior, mas a ideia do governo não é pedir que seja estendido, mas procurar resolver até 31/7. O governo vai trabalhar para resolver e avançar nos próximos dias”.
Segundo o vice-presidente, “todos se comprometeram a trabalhar e participar” e há um apelo para que os setores dialoguem com seus parceiros importadores nos Estados Unidos. “Então trabalharemos também [com] os empresários americanos, mostrando que o prejuízo não é só para o Brasil, mas para a população americana, porque há complementariedade econômica”, completou.