A demissão do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, deixou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) numa encruzilhada entre o União Brasil e o PSD, dois dos maiores partidos do Centrão. A primeira sigla deseja manter a pasta, indicando um novo nome para chefiá-la. A segunda enxerga uma chance de receber mais espaço, na expectativa de deflagração do restante da reforma ministerial.
Juscelino Filho fazia parte da “cota” de ministros da bancada do União na Câmara, a terceira maior da casa com 59 deputados. Ele pediu demissão após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da União (PGR), nessa terça-feira (8/4), por suposto desvio de emendas. O outro ministro que representa os congressistas desse partido é Celso Sabino, do Turismo, pasta almejada pelo PSD.
Como mostrou o Metrópoles, o Planalto estuda aproveitar a saída de Juscelino para deflagrar o restante da reforma ministerial, que até o momento só atingiu pastas ligadas ao PT. Nesse desenho, Sabino seria deslocado para o Ministério das Comunicações, enquanto o Turismo ficaria com o PSD, que se diz sub-representado na Esplanada.
O União, nesse cenário, seria “compensado” com o Minsitério de Ciência e Tecnologia (MCTI), hoje comandado por Luciana Santos (PCdoB), que por sua vez é cotada para assumir o Ministério das Mulheres. A ministra Cida Gonçalves, nessa complexa dança das cadeiras que envolve quatro ministérios, ficaria sem espaço no governo.
Esse desenho, porém, não agrada o União Brasil. Parlamentares da sigla afirmam que a maioria da bancada tem resistência ao governo Lula, mas ainda segue as orientações do Planalto em votações de cunho econômico e social porque o Minsitério do Turismo tem “capilaridade”. O jargão é utilizado para traduzir a capacidade de pastas transformarem suas ações em votos. Eles consideram que o MCTI não tem essa qualidade.
O PSD, por sua vez, alega que sua bancada é mais fiel ao governo Lula, mas só possui o Ministério da Pesca, pasta com pouco orçamento e com baixa capilaridade. Caciques da sigla avisaram ao Planalto que, caso os deputados não sejam contemplados, não conseguirão mais segurar o grupo no barco governista.
Nesse cenário, o presidente Lula desembarca nesta quinta-feira (10/4) em Brasília, após viagem a Honduras, com uma decisão a ser tomada. Congressistas sinalizam que o presidente precisará fazer uma escolha que, consequentemente, desagradará um dos seus partidos aliados.
O União possui três ministérios no governo Lula. Turismo e Comunicações representam a bancada na Câmara, e o ministro Waldez Góes (Integração Regional) é indicação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (AP).
O PSD também tem três ministros. Além de André de Paula na Pesca, o partido têm Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Carlos Fávaro (Agricultura), mas os dois últimos representam a bancada da sigla no Senado.