Quando vamos fazer um check-up, o médico normalmente pergunta se há casos de câncer na família. Embora de fato o histórico familiar aumente o risco da doença, ele não é determinante no surgimento de tumores.
De modo geral, a predisposição hereditária é responsável por, no máximo, 10% dos diagnósticos. O restante decorre de alterações adquiridas no DNA celular, provocadas por hábitos cotidianos e exposição a elementos ambientais. Por isso, mesmo com casos na família de tumores, é possível reduzir os riscos.
“O câncer surge a partir de alterações no DNA das células, que passam a receber instruções erradas para executar suas funções. Essas alterações podem ocorrer em virtude de maus hábitos de vida, além do que é herdado. Os fatores ambientais têm grande importância no desenvolvimento da doença”, explica o oncologista Ramon Andrade de Mello, que atende em São Paulo.
Rastreamento precoce e exames genéticos
Para reduzir o risco de ter câncer quando há casos na família, é importante reunir informações específicas sobre o histórico familiar. Nestes casos é preciso saber não só se há casos, mas com que idade os familiares de primeiro ou segundo grau foram diagnosticados e que tipo de câncer tiveram.
Pessoas diagnosticadas antes dos 50 anos podem indicar influência genética mais significativa no surgimento do tumor. Os cânceres mais comuns nessa situação são o de mama, ovário e intestino.
No caso do câncer de mama, alterações nos genes BRCA1 e BRCA2 estão associadas ao aparecimento do tumor. Elas podem ser identificadas por exames genéticos que custam aproximadamente R$ 1 mil. Mesmo sem esta avaliação, é possível reforçar a prevenção.
“De 5 a 10% dos casos de câncer de mama têm origens hereditárias como principal causa e outros 30% tem o fator hereditário combinado aos ambientais. Para mulheres com esse risco comprovado em exames, podemos tomar várias estratégias. A mais básica é um rastreamento precoce, a partir dos 25 anos, que deve ser feito com ressonância nuclear anual e, a partir dos 30, integrado com a mamografia”, afirma o oncologista e geneticista Rodrigo Santa Cruz Guindalini.
Decisões antecipadas
A prevenção do câncer quando há casos na família, porém, não depende apenas de conhecer os casos e fazer o correto acompanhamento médico. É preciso também cuidar de uma série de fatores, chamados ambientais, para reduzir o risco do desenvolvimento de tumores. Conheça os principais deles.
Controle o peso
A obesidade está ligada ao surgimento de diversos tumores, especialmente no sistema digestivo e em órgãos hormonais como mama e ovário. Mulheres obesas, por exemplo, têm até três vezes mais risco de câncer endometrial e 2,5 vezes mais chance de câncer renal do que pacientes com peso saudável.
A gordura corporal favorece inflamações crônicas, que alteram o funcionamento das células e aumentam o risco de mutações — por isso, é importante se manter em uma faixa saudável de peso.
Faça atividade física
Os exercícios físicos regulares, além de manter o peso controlado, fortalecem o sistema imunológico. A presença ativa de células de defesa permite reconhecer e combater células tumorais precocemente, o que contribui para a redução do risco de desenvolvimento de cânceres em diversos tecidos.
A prática de atividades físicas também contribui para o equilíbrio hormonal, controle do açúcar no sangue e diminuição de processos inflamatórios — fatores implicados no surgimento e progressão de tumores.
Tenha cuidado com a alimentação
Na dieta, é importante evitar alimentos ultraprocessados, carnes embutidas, doces industrializados e bebidas açucaradas. Escolher o que é ingerido ajuda a manter o intestino saudável e o organismo menos exposto a substâncias cancerígenas. Dietas ricas em vegetais, frutas e grãos inteiros são recomendadas.
Não fume
Fumar permanece como um dos fatores de risco mais relevantes para vários tipos de câncer, não apenas o de pulmão. As substâncias presentes no cigarro e no vape estão associadas ao surgimento de tumores em órgãos como bexiga, colo do útero e boca. O vape ou cigarro eletrônico também aumenta esse risco.
Não beba
O álcool também é considerado cancerígeno. Mesmo pequenas quantidades aumentam o risco de câncer de mama, fígado, intestino e garganta. Relatórios recentes indicam que não há uma dose segura para o consumo.
Em uma recomendação feita em janeiro, o cirurgião-geral dos EUA, Vivek Murthy, defendeu até colocar informações nos rótulos das bebidas sobre os riscos de câncer. “O consumo de álcool foi ligado ao aumento do risco de pelo menos sete tipos diferentes de câncer, incluindo o de mama e os tumores de todo o aparelho digestivo, causando câncer de intestino, esôfago, laringe, fígado, boca e garganta”, afirmou Murthy.
Controle problemas de saúde física e mental
Doenças crônicas como diabetes, hipertensão e colesterol elevado formam um conjunto de alterações que favorecem o surgimento de câncer. “A resistência à insulina e o excesso de colesterol são determinantes. Os mecanismos podem ser diferentes para cada tipo de câncer, mas a disfunção metabólica descontrolada é o denominador comum para inflamações que, lá na frente, podem levar ao câncer”, explica Ramon.
Problemas de saúde mental crônicos, como estresse, ansiedade e depressão, também podem aumentar o risco de câncer. Isso ocorre tanto pelos desajustes químicos no cérebro, quanto pelo fato de o equilíbrio psicológico fortalecer o corpo e contribuir para decisões conscientes.
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