Um grupo de fiéis que sofreu queimaduras na testa após participar de uma missa de Quarta-feira de Cinzas, em Carnaúba dos Dantas (RN), pode ter tido lesões na pele devido a reações químicas envolvendo as cinzas e a água benta.
O que aconteceu
- Diversos fiéis de Carnaúba dos Dantas, no interior do Rio Grande do Norte, relataram queimaduras e lesões na pele após receberem a marca da cruz na testa durante o evento religioso, realizado na última quarta-feira (5/3).
- Uma estudante, identificada como Sara Heloísa Sousa, relatou que, logo após receber a marca da cruz com o namorado, ambos sentiram ardência na pele. Após sofrer a queimadura, a jovem especulou que a reação poderia ter sido causada por uma reação química.
- O namorado da vítima, identificado como Luan Jackson, disse que a ardência começou logo após receber o sinal da cruz.“Foi colocada a cinza sobre o nosso rosto, eu voltei para o lugar onde estava e, pouco tempo depois, começou a queimar e não passava”, relatou.
- Segundo a Polícia Civil do Rio Grande do Norte (PCRN), o material utilizado na missa foi recolhido e passará por perícia para auxiliar nas investigações. O padre Ronney Galvão, representante da Igreja Católica, emitiu uma nota oficial sobre o ocorrido.
Possível reação química
A médica dermatologista Regina Buffman explica que as cinzas contêm óxido de potássio, que, ao entrar em contato com a água, pode formar hidróxido de potássio, uma substância capaz de causar danos à pele.
Ainda segundo a médica, essa fusão, que é altamente alcalina, pode causar corrosão na pele, provocando irritação, ardência e até queimaduras químicas. Ela complementa afirmando que a intensidade da reação pode variar de acordo com fatores como o tempo de exposição ao produto químico, o tipo de pele de cada pessoa, a quantidade de umidade na região afetada e até mesmo a concentração de óxido de potássio na cinza utilizada.
Após irritação na pele causada pelas cinzas, Buffman aconselha remover o resíduo com um pano seco e, em seguida, lavar a região afetada imediatamente com água corrente.
“O ideal é remover a cinza com um pano seco e, depois, lavar a região afetada imediatamente com bastante água corrente para eliminar qualquer resíduo químico, por 15 minutos. Não se deve esfregar a área, pois isso pode piorar a irritação. Se a sensação de queimação persistir ou houver feridas na pele, um dermatologista deve ser consultado para avaliar a necessidade de tratamentos específicos, como o uso de cremes calmantes ou cicatrizantes”, recomenda a médica.
De acordo com a dermatologista, na maioria dos casos, as queimaduras leves se curam sem deixar sequelas. No entanto, caso a lesão seja mais profunda, podem surgir cicatrizes ou hiperpigmentações (manchas na pele). Em casos raros, queimaduras mais graves podem causar danos permanentes.
Padre se manifesta após o caso
Após o caso gerar preocupações entre os fiéis, o padre emitiu um comunicado oficial sobre a ocorrência. O líder religioso afirmou que a preparação das cinzas foi feita “como de costume, absolutamente normal, como todos os anos”.
“Meus irmãos e irmãs, ficamos cientes do ocorrido na missa das cinzas. A preparação foi feita como de costume, absolutamente normal, como todos os anos. Não sabemos o que causou a alergia nas pessoas. Lamentamos o ocorrido e nos sensibilizamos com todos que tiveram a pele atingida.”
De acordo com o padre, a celebração é uma tradição da Igreja Católica, e as cinzas são aplicadas no início da Quaresma, o período de 40 dias de preparação para a Semana Santa. O evento religioso simboliza que os seres humanos são pó e é um chamado para que os cristãos católicos vivam “a radicalidade dos exercícios quaresmais”.
Além disso, o líder religioso explicou que há diversas maneiras de produzir as cinzas e que, em Carnaúba dos Dantas, o método utilizado é com os ramos que os católicos levam à igreja no Domingo de Ramos, na abertura da Semana Santa. Após isso, os ramos são queimados nas fogueiras das festas juninas e, no dia seguinte, as cinzas são recolhidas e armazenadas até a Quarta-feira de Cinzas.
