Home Brasil Pesquisadora cria mapa que revive memória africana: “Nossa história”

Pesquisadora cria mapa que revive memória africana: “Nossa história”

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Com o objetivo de conhecer suas raízes e se reconectar com seu avô materno, Talita Azevedo, de 27 anos, viajou por quatro estados brasileiros e, após 12 meses de construção, criou um mapa interativo como parte de um projeto que revive a memória afro-brasileira.

O Mapa Presente Histórico serve de ponto de partida para a discussão sobre o apagamento histórico da cultura afro-brasileira da história do país. Ao todo, 13 lugares foram selecionados por Talita em uma viagem que durou nove meses.

“Esses dados não interferem apenas em mim, enquanto mulher negra, mas em todos nós [brasileiros]. Todo mundo teve algum tipo de atravessamento, se não foi nessa geração, em gerações anteriores”, explica a pesquisadora independente. “É sobre a história brasileira. a partir dessa análise a gente entende muito mais o cenário macro.”


Por onde a historiadora viajou?

  1. Campinas (SP): provavelmente a última cidade do mundo a abolir o processo de escravização de pessoas.
  2. Itaúnas (ES): a partir da derrubada da faixa de mata da beira da praia entre as décadas de 1950 e 1970, a areia avançou sobre uma antiga vila, soterrando-a. Dessa forma, todo o processo de migração da população nativa aconteceu em sequência, reconstruindo suas casas do outro lado do rio.
  3. Igreja de Nossa Senhora da Misericórdia (BA): é considerada como a primeira igreja do Brasil, fundada em 1526. É próxima de grandes pontos turísticos.
  4. Largo Terreiro de Jesus (BA): praça de grande importância para o pensamento e revitalização da memória histórico-cultural do país.
  5. Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (BA): O espaço tem forte relação com a Irmandade do Rosário dos Pretos e foi local de sepultamento de pessoas. Nas proximidades, existe a Casa do Rio Vermelho – lugar de grande convívio de figuras históricas como Jorge Amado e Zélia Gattai.
  6. Palacete Princesa Isabel (RJ): desenvolvido na época Imperial, o espaço tem forte relação com D. Pedro II e sua família, bem como exposições artísticas – como a Capela de Santa Bárbara e o mapa do roteiro da FEB.
  7. Lagoa das Lontras (RJ): região conhecida por quilombos e contribuições de pessoas escravizadas em plantações de cafés.
  8. Ilha de Paquetá (RJ): a poucos quilômetros da região central carioca, a ilha abriga Maria Borba – uma árvore de nome Baobá presente no local desde o século 17.
  9. Jardim Botânico (RJ): espaço dedicado ao conhecimento de uma extensa parte da flora nacional, bem como elementos históricos como a estátua em homenagem a Ossain, um orixá relacionado à cura.
  10. Igreja do Rosário (RJ): espaço religioso com estátua e homenagens à Anastácia, uma figura histórica feminina marcante.
  11. Catedral São Pedro de Alcântara (RJ): Igreja que abriga os restos mortais da Princesa Isabel, Dona Teresa Cristina e Dom Pedro II. A capela é protegida por grades e rodeada por vitrais.
  12. Cais do Valongo (RJ): considerada a maior porta de entrada de pessoas escravizadas nas Américas, com aproximadamente 1 milhão de pessoas recebidas do continente africano. O local é Patrimônio Histórico da Humanidade (Unesco).
  13. Rasa (RJ): uma das zonas litorâneas marcadas pelo tráfico ilegal de pessoas postas em situação de escravização.

Agora, a pesquisadora quer escrever um livro com fotos e registros das viagens. O lançamento do material está marcado para maio deste ano. O objetivo da publicação é criar uma conexão emocional com as experiências da pesquisadora e com os lugares visitados.

“O que será que tem em comum esses lugares? E aí eu fui entender que todos eram lugares que tinham não só o apagamento da memória histórica na perspectiva da diáspora africana, mas também de sustentabilidade, de especulação imobiliária”, afirma Talita.

7 imagens

1 de 7

Reprodução/ Mapa Presente Histórico

2 de 7

Igreja Nossa Senhora do Rosário Preto

Arquivo pessoal/ Divulgação

3 de 7

Itaúnas

Arquivo pessoal/ Divulgação

4 de 7

Ilha de Paquetá

Arquivo pessoal/ Divulgação

5 de 7

Ilha de Paquetá

Arquivo pessoal/ Divulgação

6 de 7

Palacete Princesa Isabel

Arquivo pessoal/ Divulgação

7 de 7

Jardim Botânico

Arquivo pessoal/ Divulgação

Entre os principais desejos da pesquisadora estão fomentar a discussão de criatividade aplicada a tecnologia e expor diferentes narrativas. “Para esse ano quero dar aula, quero lançar o livro, quero começar a pensar na exposição, em um documentário. Mas, para mim, um indicador de sucesso é saber que este projeto está despertando a curiosidade das pessoas sobre a sua própria história. Criar acervos de memória para as próximas gerações”, finaliza Talita.

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