Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) descobriram existir uma relação direta entre os traços de personalidade de uma pessoa com o desenvolvimento de insônia. O estudo brasileiro foi publicado em fevereiro, no Journal of Sleep Research.
O estudo mostrou que quanto mais extrovertido é um indivíduo, menores são os índices de insônia. Por outro lado, o alto nível de neuroticismo, caracterizado por instabilidade emocional, foi mais prevalente em pessoas com o distúrbio de sono.
A insônia é um dos distúrbios do sono mais prevalentes nos adultos. Estima-se que cerca de 30% da população mundial sofra com o problema que causa diversos impactos negativos para a saúde. Além de ter dificuldades para adormecer e se manter dormindo por toda a noite, as pessoas com insônia correm maior risco de ter hipertensão, diabetes tipo 2, ansiedade e depressão.
Relação entre insônia e personalidade
O ponto de partida da pesquisa foi a teoria já estabelecida que propõe a existência dos três Ps da insônia: predisposição, precipitação (gatilhos para os sintomas) e perpetuação (comportamentos que fazem com que a pessoa se mantenha no ciclo vicioso da insônia).
Ao mesmo tempo, eles analisaram a teoria Big Five, que diz que todas as pessoas têm diferentes níveis dos cinco traços de personalidade:
- Extroversão: pessoas com níveis de extroversão altos são mais falantes, com perfil de liderança;
- Neuroticismo: mais instáveis emocionalmente e tendem a focar em aspectos mais negativos da vida;
- Amabilidade: tendem a ser mais empáticas, cordiais e preocupadas com o bem-estar alheio;
- Abertura à experiência: mais criativas, com comportamento exploratório diante da novidade;
- Conscienciosidade (realização): são mais determinadas, comprometidas, motivadas e perseverantes.
A partir dessas informações, os pesquisadores avaliaram 595 pessoas com idades entre 18 e 59 anos. Os participantes foram divididos em dois grupos: o primeiro era composto majoritariamente por indivíduos com insônia, enquanto o segundo era um grupo-controle, com pessoas sem problemas para dormir.
Todos os participantes responderam a um questionário com 60 perguntas para avaliação da personalidade. Após cruzar as informações, a pesquisadora Bárbara Araújo Conway, psicóloga do sono, observou que os pacientes com insônia tinham índice muito mais alto de neuroticismo do que os voluntários sem problemas para dormir. Eles também apresentavam índices mais baixos de amabilidade, de abertura e de conscienciosidade.
Segundo Conway, a extroversão foi o único traço de personalidade que não apresentou diferença significativa. “Neuroticismo foi o traço que mais se destacou, os insones possuem esse índice bem mais alto. Mas não podemos afirmar que os insones são mais introvertidos”, disse Bárbara à Agência Fapesp.
Resultados:
- 61,7% dos insones apresentaram alto índice de neuroticismo, em comparação com 32% do grupo-controle;
- 40,7% dos insones possuíam baixos índices de abertura, contra 23% do outro grupo;
- 31,5% dos voluntários com insônia apresentaram baixa amabilidade em comparação com 23,2% dos não insones;
- 37,7% dos insones tinham baixa conscienciosidade, contra 24,1% do grupo-controle.
O que fazer com essa informação?
Para a autora do estudo, os resultados mostram a importância de investigar e tratar a ansiedade dos pacientes para ter melhores resultados no tratamento da insônia.
“Essas descobertas são importantes na prática clínica, pois ao receber pacientes com esse traço de personalidade é fundamental pensar em um plano de tratamento que foque não somente no sono, mas também na ansiedade”, considerou a professora Renatha El Rafihi-Ferreira, do Departamento de Psicologia Clínica.
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