“Sou um filho de Santo Agostinho, agostiniano”, disse o papa Leão XIV em seu primeiro discurso após ser eleito no conclave como o novo líder da Igreja Católica. O novo pontíficie deixou claro que pertence à Ordem de Santo Agostinho, fundada em 1244.
Os agostinianos são de uma ordem religiosa católica mendicante, que segue os princípios de vida e pensamento de Santo Agostinho. No Brasil, a presença inicial do grupo remonta à época do Império, mas eles enfrentaram dificuldades e precisaram se reestabelecer de forma mais consistente por volta de 1899.
Ordem agostiniana no Brasil
Frei Eberson Naves, membro da Ordem de Santo Agostinho (OSA), comenta que os agostinianos reformados chegaram à cidade de Salvador, Bahia por volta de 1693, quando fundaram um convento e uma igreja. Permaneceram no local por mais de 130 anos, quando ocorreu a supressão do espaço na época de Pedro I, e precisaram retornar a Portugal.
“A Ordem de Santo Agostinho só vai retornar depois, no século 19. Então, se inicia essa missão com frades provenientes da província das Filipinas e dos recoletos, que são os espanhóis. Eles são enviados ao Brasil em missão para encontrar um lugar para evangelizar, para fundar escolas, colégios, através da sua própria espiritualidade”, explica.
Em 1899, chegaram novamente os primeiros frades. Anos depois, entre 1929 e 1933, vieram agostinianos da província do Sagrado Coração de Jesus, da Espanha. Os frades se instalaram em regiões como São Paulo, Minas Gerais e Paraná e os recoletos também abriram missões no Amazonas e em Goiás.
Naves indica que, atualmente, existem duas províncias agostinianas no Brasil:
- A Província Agostiniana Nossa Senhora da Consolação do Brasil, com sede em Belo Horizonte. Esta província foi elevada em 2019, pois até então pertencia à província espanhola. Além de Minas Gerais, eles se encontram no Ceará, São Paulo e Rio de Janeiro.
- A Província Agostiniana do Brasil, com sede em São Paulo, estando presente também no Nordeste e em estados do Sul, como Curitiba.
“Então, pouco a pouco, a caminhada dos agostinianos no Brasil foi crescendo. Nós tivemos muitos conflitos, muitas dificuldades, mas graças à dedicação de grandes frades que vieram para cá, nós conseguimos chegar ao que nós somos hoje”, comenta o frei.
O frei pertence à primeira província, que conta, no momento, com cerca de 39 frades de votos solenes. Há também formandos em diversas etapas do processo para se tornar frade.
Características
Frei Eberson Naves relata que a ordem é destacada como uma das principais ordens mendicantes da Igreja. Sua origem formal remonta ao século 13, embora Santo Agostinho tenha deixado regras entre os século 4 e 5.
Segundo o especialista, a fundação da ordem como a conhecemos ocorreu com o papa Inocêncio III, que foi o responsável por reunir diversos grupos que já viviam os indicativos e a espiritualidade apontada por Santo Agostinho, formando assim a Ordem dos Eremitas de Santo Agostinho.
Posteriormente, em 1256, o papa Alexandre IV reforçou a ordem, colocando-a entre as ordens mendicantes e abrindo caminhos para sua expansão global, incluindo a Américas e a Ásia.
A ordem segue o ideal descrito nos Atos dos Apóstolos: “Ter um só coração e uma só alma, voltados para Deus”. Atualmente, ela está presente em 42 países e conta com cerca de 2,6 mil religiosos.
A “Grande Família Agostiniana” é formada por diferentes ramos, incluindo Agostinianos Recoletos, Agostinianos Descalços, Agostinianas Missionárias e Agostinianos da Ordem de Santo Agostinho.
A ordem é fundamentada em três pilares essenciais. A “interioridade” que se refere-se à busca por Deus e pela verdade através do autoconhecimento, a “vida comunitária”, pautada pela partilha de bens materiais e espirituais, e o serviço dedicado à igreja e à humanidade.
O novo papa, Leão XIV, passou grande parte de sua vida fora dos EUA. Ele foi ordenado em 1982, aos 27 anos, obteve doutorado em direito canônico na Pontifícia Universidade de Santo Tomás de Aquino, em Roma. No Peru, atuou como missionário, pároco, professor e bispo. Como líder dos agostinianos, visitou ordens ao redor do mundo e fala espanhol e italiano.
“Quando o papa, de fato, assim, iniciar os seus trabalhos, a nossa expectativa é ver em cada detalhe, em cada palavra, uma experiência agostiniana. Ele mesmo já disse: ‘Sou filho de Santo Agostinho, sou agostiniano’. Então, isso para nós é uma grande alegria porque isso traz um reforço para a espiritualidade”, finaliza frei Eberson Naves.