Oito crianças no Reino Unido nasceram saudáveis após um procedimento de fertilização in vitro inovador, que usa material genético de três pessoas. A técnica, ainda pouco comum, foi criada para evitar a transmissão de doenças hereditárias graves que afetam órgãos como o coração, o cérebro e os músculos.
A técnica, chamada de doação mitocondrial, foi aplicada em mulheres com risco de transmitir mutações graves no DNA mitocondrial para seus filhos.
No procedimento, os núcleos do óvulo fertilizado da mãe e do espermatozoide do pai são transferidos para o óvulo de uma doadora anônima com o interior previamente esvaziado, mas com mitocôndrias saudáveis. Com isso, os embriões passam a carregar DNA de três pessoas: pai, mãe e uma doadora.
“Este é um estudo histórico sobre a prevenção de doenças mitocondriais”, afirmou Dietrich Egli, cientista da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, em comunicado.
O que é a FIV?
- A fertilização in vitro (FIV) é um tratamento de reprodução assistida que consiste em fertilizar o óvulo com o espermatozoide em laboratório. Depois dessa etapa, o embrião formado é transferido para o útero da mulher.
- Todo o processo da FIV envolve quatro etapas principais: estimulação ovariana, coleta dos gametas (óvulos e espermatozoides), fertilização e cultivo dos embriões no laboratório, e, por fim, a transferência embrionária para o útero da paciente.
- A técnica pode ser indicada em diversos casos, como endometriose avançada, baixa reserva ovariana, trompas obstruídas, infertilidade sem causa aparente e abortos de repetição.
- Também é uma opção para casais sorodiscordantes, homens com baixa produção de espermatozoides e casais homoafetivos, tanto femininos quanto masculinos.
Primeiras crianças com técnica regulamentada no mundo
O Reino Unido é o único país que regulamentou formalmente esse tipo de procedimento, após mais de uma década de debate científico e ético. Desde 2015, apenas uma clínica no país, o Newcastle Fertility Centre, recebeu autorização para realizá-lo.
As oito crianças nasceram de mulheres que participaram do programa. Além delas, uma nova gravidez segue em andamento. De acordo com os pesquisadores, os bebês, sendo quatro meninas e quatro meninos, estão se desenvolvendo normalmente. O mais velho já completou 2 anos, e o mais novo tem menos de 5 meses.
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Na maioria dos casos, não foram detectadas mitocôndrias defeituosas nos bebês. Três crianças apresentaram níveis residuais dessas mitocôndrias, mas os cientistas acreditam que as proporções, de 5% a 16%, não são suficientes para causar doenças.
Ainda assim, os especialistas defendem o acompanhamento contínuo da saúde das crianças, pois as mitocôndrias mutantes podem se comportar de forma diferente ao longo do tempo.
Futuras gerações também podem ser protegidas
Os pesquisadores destacam que, além de proteger os bebês, a técnica pode impedir que meninas com mutações mitocondriais as transmitam aos próprios filhos no futuro.
“Ver bebês nascerem ao final disso é incrível, e saber que não haverá doença mitocondrial no final”, disse Robert McFarland, neurologista pediátrico da Universidade de Newcastle, em coletiva de imprensa.
Apesar dos resultados positivos, os cientistas lembram que a técnica não é totalmente livre de riscos. Em alguns casos, uma pequena quantidade de mitocôndrias defeituosas pode permanecer no embrião e, mesmo em níveis baixos, isso ainda pode representar algum perigo, especialmente se essas células se multiplicarem ao longo do tempo ou se ficarem concentradas em determinados órgãos.
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