Por ano, cerca de 45 mil brasileiros são diagnosticados com câncer de intestino, segundo estimativas do Instituto Nacional do Câncer (Inca), e o tumor, associado a mais de 20 mil óbitos anuais, é responsável por cada vez mais casos. Uma das razões do número tão elevado é que os sintomas só aparecem quando a doença já está muito avançada — por isso, os exames preventivos são fundamentais para uma detecção precoce.
O rastreamento costuma ser feito de duas formas: exames laboratoriais ou de imagem. Em cânceres em estágio inicial, porém, apenas os exames de colonoscopia são capazes de detectar a presença dos tumores, já que a presença de sangue oculto nas fezes ou proteínas no sangue é imperceptível neste período.
Detecção precoce salvou Tereza
Para fazer a prevenção, a fonoaudióloga Tereza Gomes, de 62 anos, já realizou sete colonoscopias ao longo da vida. Um de seus últimos rastreios, feito em 2022, revelou o que ela mais temia: uma lesão que posteriormente se mostrou pré-cancerígena.
“Meu pai morreu aos 54 anos, vítima de câncer de intestino. Por isso, tive a recomendação de, desde os 40 anos, fazer esse exame regularmente, uma vez a cada três anos. Na maioria das vezes, foram encontrados apenas pólipos benignos, removidos durante o procedimento, então me acostumei e achei que seria sempre assim”, conta Tereza.
No entanto, em 2022, uma lesão achatada foi identificada e precisou ser retirada cirurgicamente. Os médicos descobriram um pólipo plano, parecido com uma mancha, que só poderia ser retirado em cirurgia. “Acabei tirando 35 centímetros do intestino neste procedimento e a biópsia revelou que era uma lesão pré-cancerígena”, relata.
Apesar do susto, a detecção precoce impediu que o quadro evoluísse para um câncer. “Se tivesse esperado mais para fazer o exame, talvez não tivesse tido essa sorte. Incluo a colonoscopia como parte essencial da minha rotina de saúde e agora faço o exame a cada dois anos”, completa ela.
O volume de massa intestinal retirado na cirurgia pode surpreender, mas foi necessário para criar uma margem de segurança e evitar o reaparecimento do tumor. Tereza não precisou usar bolsa de ileostomia após o procedimento.
Como fazer a detecção precoce do câncer de intestino?
- Segundo o Ministério da Saúde, a detecção precoce pode ser feita por meio da investigação com exames clínicos, laboratoriais, endoscópicos ou radiológicos, de pessoas com sinais e sintomas sugestivos da doença.
- Os principais sinais e sintomas sugestivos do câncer são: sangue nas fezes, alteração do hábito intestinal, seja com diarreia e/ou prisão de ventre, além de dor, cólica ou desconforto abdominal;
- Também podem ser observados casos de fraqueza, indisposição e anemia. Muitas pessoas com tumor colorretal acabam perdendo peso sem causa aparente e sentem uma sensação de inchaço abdominal como se tivessem fezes constantemente presas.
Quem deve fazer os exames preventivos?
O coloproctologista Marcelo Averbach, do Hospital Sírio-Libanês, explica que a predisposição genética, como no caso de Tereza, é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento do tumor, mas não o único.
“A maior incidência da doença ocorre após os 50 anos, e hábitos como alimentação rica em carnes processadas e pobre em fibras, obesidade, sedentarismo, tabagismo e consumo excessivo de álcool também contribuem. Além disso, doenças inflamatórias intestinais, como colite ulcerativa e doença de Crohn, podem aumentar a chance de desenvolver a condição”, afirma.
A detecção precoce é fundamental para melhorar o prognóstico. “Tumores detectados em fase precoce podem ter até 90% da chance de cura e, por outro lado, naqueles em fase avançada com doença metastática, a chance cai para cerca de 10%”, explica Marcelo.
A colonoscopia é recomendada a partir dos 45 anos para a população em geral e deve ser repetida a cada 10 anos para indivíduos de baixo risco. Para quem tem histórico familiar, o exame pode ser indicado antes e ter maior frequência. Além da colonoscopia, exames como a pesquisa de sangue oculto nas fezes e a sigmoidoscopia também são utilizados.
Tereza reforça a importância de não ignorar os exames preventivos. “Eu mesma precisei ser convencida a fazer a colonoscopia. O preparo do exame pode ser trabalhoso, especialmente pela necessidade de usar o laxante, mas o benefício para a saúde é imensurável. Sempre digo: tenham mais medo de não fazer o exame do que fazê-lo.”
Evolução no tratamento
A descoberta de uma lesão que pode ser câncer também não deve ser encarada como fim de jornada, como não foi para Tereza. Desde 1985, quando o pai dela faleceu, o tratamento do câncer colorretal evoluiu significativamente.
Novas técnicas cirúrgicas, como laparoscopia e robótica, além de quimioterapia e radioterapia, aumentaram as chances de cura. “Hoje, há também terapias-alvo, que bloqueiam o crescimento das células tumorais em alguns casos”, explica Averbach.
Quando é descoberto de forma precoce, o tumor é frequentemente tratável apenas com cirurgia. O tratamento depende principalmente do tamanho, localização e extensão do câncer. Quando a doença está espalhada, com metástases para o fígado, pulmão ou outros órgãos, as chances de cura ficam reduzidas.
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