O assassinato do ex-deputado Rubens Paiva, morto entre 20 e 22 de janeiro de 1971, nas instalações do Destacamento de Operações de Informações — Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-Codi), durante a ditadura militar, segue sem muitas respostas.
Entretanto, passados 61 anos do golpe militar, a organização sem fins lucrativos especializada em transparência publica, a Fiquem Sabendo, teve acesso às fichas funcionais de cinco oficiais mencionados no relatório da Comissão Nacional da Verdade como envolvidos no crie. De acordo com os documentos, todos foram promovidos após a morte do deputado.
A história de Rubens Paiva e da família ficou eternizada pelo livro Ainda estou aqui, escrito pelo filho Marcelo Rubens Paiva, e pelo filme homônimo, estrelado por Fernanda Torres, que venceu o Oscar de Melhor Filme Internacional neste ano.
De acordo com relatório preliminar da Comissão Nacional da Verdade, de 2014, os militares Freddie Perdigão Pereira, Rubem Paim Sampaio, Raymundo Ronaldo Campos, Jacy Ochsendorf e Jurandyr Ochsendorf teriam se envolvido de diferentes formas no assassinato de Rubens Paiva:
- Freddie Perdigão Pereira e Rubem Paim Sampaio participaram da recepção e do interrogatório de Rubens Paiva no DOI-Codi.
- Raymundo Ronaldo Campos, Jacy Ochsendorf e Jurandyr Ochsendorf atuaram na tentativa de encobrir o desaparecimento de Rubens Paiva.
Os extratos parciais das fichas funcionais dos cinco militares revelam que todos eles foram promovidos tanto antes quanto depois da morte do deputado, e alguns chegaram a receber referências elogiosas registradas oficialmente. Confira:
- Freddie Perdigão Pereira (28 anos de serviço militar) foi promovido a major em dezembro de 1974, três anos após a morte de Rubens Paiva. A última função antes de ser transferido para a reserva, em 1982, foi de oficial de gabinete da Presidência da República. Entrou para a reserva como tenente-coronel.
- Rubem Paim Sampaio (26 anos de serviço militar) foi promovido a tenente-coronel em agosto de 1975, quatro anos após a morte de Rubens Paiva. A última função antes de ser transferido para a reserva, em 1976, foi de oficial de gabinete do Ministro do Exército.
- Raymundo Ronaldo Campos (33 anos de serviço militar) foi promovido a major em 1973, dois anos após a morte de Rubens Paiva. A última função antes de ser transferido para a reserva, em 1984, foi de adjunto de seção e chefe de subseção da Diretoria de Motomecanização. Dois meses antes de ser desligado do serviço militar, Raymundo Ronaldo Campos chegou a coronel do Exército.
- Jacy Ochsendorf (32 anos de serviço militar) foi promovido a 2º sargento em 1974, três anos após a morte de Rubens Paiva. Entre 1972 e 1996, ano em que foi transferido para a reserva, Jacy desempenhou a função de auxiliar administrativo no gabinete do ministro do Exército. Ele chegou a capitão.
- Jurandyr Ochsendorf (35 anos de serviço militar) foi promovido a subtenente em 1976, cinco anos após a morte de Rubens Paiva. A última patente antes de ser transferido para a reserva, em 1994, foi de capitão do Exército.
Deles, apenas Jacy Ochsendorf e Rubem Paim Sampaio não receberam elogios formais após o ano de 1971. À exceção de Rubem, todos foram promovidos mais de uma vez durante os anos de serviço. Freddie e Jacy continuam vivos.
A Fiquem Sabendo ainda aguarda as fichas funcionais dos militares Antônio Fernando Hughes de Carvalho, responsável por torturas à época da morte de Rubens Paiva, e do então major José Antônio Nogueira Belham, ex-comandante do DOI. Ele é considerado responsável pela morte e pelo desaparecimento de Rubens Paiva, em razão do conhecimento e consentimento das práticas de tortura.