Home Entretenimento Maeve Jinkings reflete sobre mães homofóbicas e cura gay em novo filme

Maeve Jinkings reflete sobre mães homofóbicas e cura gay em novo filme

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Rio de Janeiro — Nascida em Brasília, Maeve Jinkings é a cara do Brasil. Talvez por isso, seja uma das atrizes mais requisitadas de sua geração para dar vida à mulheres reais, com sotaques e dores facilmente reconhecíveis no dia a dia nacional. O talento para conduzir o espectador pelas mais diversas emoções foi reconhecido durante o 25º Festival do Rio, onde foi eleita Melhor Atriz por sua atuação em Pedágio, filme que chega em 30 de novembro aos cinemas.

No longa-metragem dirigido por Carolina Markowicz, Maeve encarna Suellen, uma atendente de pedágio que, inconformada com a orientação sexual do filho, comete delitos na tentativa de financiar uma cura para o que considera uma “doença”. Além de retratar a opressão sofrida pela população LGBTQIAP+, um dos destaques da produção é o tom antimaniqueísta e humanizado que a intérprete escolhe para tratar uma personagem muitas vezes vista apenas como opressora. Veja o trailer.

Na atual conjuntura do país, com o recente projeto que proíbe a união civil entre pessoas do mesmo sexo aprovado pela Câmara, Maeve Jinkings acredita que a sua maior contribuição para o debate seja tratar essa mãe em toda a sua complexidade. “Se eu atuasse apenas como vilã, seria raso, e não foi isso que eu vi [nas ruas]. Elas também são vítimas”, explica, em entrevista ao Metrópoles.

Para a atriz, mães como a Suellen de Pedágio, que sacrificam seus filhos e filhas ao impô-los tratamentos de “cura gay”, também são violentadas pelo preconceito social. “Eu entendo que esse tipo de manipulação do desejo gigante das mães de cuidar de seus filhos, é uma pervesidade muito grande. Porque leva essas mães a serem violentas com os filhos, na ilusão de que estejam tendo um gesto de amor e de cuidado, e, na verdade, elas têm medo do julgamento. Elas estão perdidas…. E sofrem, acima de tudo, elas sofrem”, considera Maeve.


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Mergulho na personagem

Para dar mais credibilidade para sua atuação, Maeve se debruçou no processo de construção da personagem. “O momento mais importante para mim é a pesquisa de rua. Onde estão essas mulheres? Entrevisto muita gente e tento abrir o meu coração para entender o ponto de vistas delas, o que fez elas enxergarem as coisas daquela maneira… E isso nos seus defeitos e qualidades, nas suas dores”, explica.

Assim como a Suellen, de Pedágio, Maeve coleciona em seu currículo papéis femininos fortes que vão desde a Bia, de O Som ao Redor (2012), até a Irene, de Carvão (2022). E para manter o “padrão Maeve” (inventado por esta jornalista) nas atuações, a atriz tem uma receita:

“É um objetivo, sempre, me cercar do máximo de elementos e tirar tudo que eu sinto que é badulaque, que é preconceito meu e que não ajuda o espectador no sentido de ser crível, de existir empatia… Eu me esforço muito para haver realidade para os personagens, seja na linguagem que for. Talvez isso tenha a ver com a minha vontade de buscar a verdade da forma mais profunda que estiver ao meu alcance, em termos de construção de corpo, de voz ou de lógica do personagem”, completa.

Feliz com a safra de filmes apresentados durante o Festival do Rio de 2023, produções em sua maioria realizadas durante os anos nos quais houve uma tentativa de desmonte cultural, em especial do cinema nacional,  Maeve deseja que o Brasil possa evoluir e que os agentes das artes do país sejam melhor tratados. “Espero acima de tudo que a gente, como país, amadureça. Que a democracia amadureça, e que a gente evolua de problemas.”

*A repórter viajou a convite da produção do 25º Festival do Rio

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