A expansão territorial e o controle de comunidades inteiras no Rio de Janeiro, sempre imposto pelo medo e à revelia do Poder Público, se tornou prioridade para o Comando Vermelho (CV). Recentemente, moradores do bairro do Éden, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, foram informados de que os traficantes haviam criado a “taxa de barricada”, obrigando comerciantes a pagar pela a construção de barreiras de concreto armado e ferro, que impedem o acesso de veículos “estranhos”, incluindo a polícia.
Moradores do bairro relatam que quem se recusa a pagar é ameaçado de morte. O tráfico ainda cobra de quem quer estacionar veículos na região. Donos de residências no local vivem cercados por barricadas e tornaram-se reféns do medo. A coluna Na Mira conversou com pessoas que vivem a realidade e precisam seguir à risca as regras imposta pela maior facção criminosa do Estado. Sem acesso, até a coleta de lixo deixou de ser feita, pois caminhões não conseguem mais passar.
Além da dificuldade de locomoção dentro do próprio bairro, quem precisa chegar ou sair de casa enfrenta um desafio diário. “Não temos mais coleta de lixo, não podemos pegar um carro de aplicativo e descer na nossa porta, não temos carros. Quando chegamos de “frete” ou táxi, precisamos andar 10 minutos carregando bolsas pesadas até nossas casas. É um caos. É triste viver isso”, relata uma moradora, que preferiu não se identificar por medo de represálias.
Comércios fechando
A presença do CV também exerce uma forte influência negativa sobre o comércio local. Lojas e pequenos estabelecimentos estão fechando as portas devido à insegurança. “Ninguém quer ficar com uma banca de droga na frente da loja. Os comerciantes têm medo de represálias e de serem alvos de confrontos. Quando a polícia aparece, é uma guerra, e temos medo de sermos baleados dentro de casa”, diz outro morador.
Essa situação, segundo os moradores mais antigos, nunca havia sido vivida no bairro. “O Éden e Tomazinho sempre foram bairros maravilhosos. Antes, tínhamos liberdade para circular, de fazer compras e viver com tranquilidade. Agora, nos sentimos reféns dentro das nossas próprias casas”, lamenta uma moradora.
A comunidade cobra uma ação efetiva das autoridades para restaurar a segurança e garantir que os moradores possam voltar a viver com dignidade. “A gente quer poder sair e voltar para casa sem medo, poder chamar um carro de aplicativo sem precisar andar longas distâncias e ver nossos comércios funcionando novamente. Só queremos paz”, conclui a entrevistada.
A coluna acionou as polícias Militar e Civil do Rio de Janeiro para falar sobre ações de repressão às facções nas comunidades, mas não obteve retorno até a última atualização desta reportagem. O espaço permanece para eventuais manifestações.