O presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, disse a senadores, nesta terça-feira (22/4), que o papel da autoridade monetária é “ser o chato da festa”. Galípolo participa de audiência na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, destinada a tratar das perspectivas da política monetária.
Ele explicou que o BC precisa colocar os juros em um patamar que atenda à meta de inflação definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN).
Em 2025, a meta inflacionária é de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual – ou seja, com piso de 1,5% e teto de 4,5%. Ela será considerada cumprida se oscilar dentro desse intervalo de tolerância.
A inflação, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), acumula alta de 5,48% nos últimos 12 meses até março. Nesse ritmo e patamar, o IPCA caminha para mais um descumprimento da meta.
Nesse cenário, a taxa básica de juros, a Selic, está em 14,25% ao ano. “Quando a economia está aquecida, gerando pressões inflacionárias, você deveria freá-la, para que não se perdesse o controle da estabilidade monetária”, argumentou Galípolo, citando o pleno emprego, o aumento da renda dos brasileiros e a produtividade dos vários setores do país.
Ele ainda tocou na inflação dos alimentos, explicando que 60% dos custos da produção agropecuária estão ligados, direta ou indiretamente, ao câmbio. Segundo o Banco Central, uma depreciação cambial de 10% aumenta a inflação de alimentos em 1,4 ponto percentual.
Na abertura da audiência, o presidente da comissão, senador Renan Calheiros (MDB-AL), falou do aumento dos juros como ferramenta eficaz para conter inflação, apesar de ser um “remédio amargo para o cidadão comum e para empresas”.
Renan Calheiros também destacou apoio do presidente Lula (PT) e do Ministério da Fazenda a Galípolo. O presidente do BC foi secretário-executivo do ministro Fernando Haddad nos primeiros meses de 2023.
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Cenário internacional
A respeito do contexto internacional, Galípolo disse que está ganhando força no BC a avaliação de um cenário de desaceleração em função das tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “Foi se tendo entendimento de que as tarifas possam desacelerar a economia”, disse ele, citando ainda as incertezas geradas pela gestão trumpista.
“A própria incerteza deve provocar algum tipo de desaceleração. A incerteza da guerra tarifária deverá gerar algum tipo de desaceleração global”, argumentou. “Estamos falando de um cenário de aversão a risco.”
As audiências regulares com o presidente do Banco Central estão previstas no Regimento Interno do Senado. De acordo com o texto, ele deve comparecer a reuniões da CAE pelo menos quatro vezes ao ano.