A capital do Pará, Belém, se tornou, nesta sexta-feira (10/10), o epicentro das discussões sobre sustentabilidade no Brasil. No Theatro da Paz, a terceira edição do Fórum Esfera Internacional reuniu autoridades dos Três Poderes, governadores e representantes da sociedade civil para debater os caminhos da transição energética, da descarbonização e da preservação da Amazônia, às vésperas da COP30, que será realizada em novembro na capital paraense.
Em discurso de abertura do evento, o presidente do Conselho de Administração da Esfera, João Camargo, reforçou o simbolismo de sediar o evento no bioma que regula o clima global, chamando a COP30 de “Copa da Floresta”.
Ele defendeu que a presença em Belém é crucial para o mundo compreender a realidade amazônica.
“Quem não quiser ver a Amazônia de perto, a Amazônia como ela é, com as dificuldades que tem, não merece taxar o Brasil dizendo que a gente não está preservando o nosso verde”, afirmou.
O governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, apresentou o estado como exemplo de desenvolvimento sustentável. Ele afirmou que Mato Grosso é o maior produtor de alimentos do país, mas preserva 60% de seu território, destacando o equilíbrio entre produção e conservação ambiental.
Confira o evento:
O fim da síndrome do vira-lata
Entre os destaques do encontro, o ministro do Turismo, Celso Sabino, afirmou que o Brasil vive um momento de virada de percepção sobre si mesmo. Para ele, os brasileiros estão superando a chamada “síndrome do vira-lata”, ao reconhecer o valor das próprias riquezas e belezas naturais.
Um dos reflexos dessa mudança seria o avanço do turismo internacional no país.
Segundo dados apresentados por Sabino, o Brasil nunca havia recebido 6,8 milhões de turistas estrangeiros em um único ano. A expectativa, segundo ele, é que o número supere os 10 milhões até dezembro. O ministro avaliou que o movimento é resultado de políticas públicas de valorização nacional e infraestrutura turística.
Sabino também defendeu a permanência no cargo por “responsabilidade com o país e com o povo paraense”, ressaltando que deixar o governo atualmente, com a COP30 e os projetos em andamento, seria uma “covardia”.
Belém no centro do mundo
O prefeito de Belém, Igor Normando, afirmou que a cidade vive um momento histórico ao sediar os debates que antecedem a COP30. Ele destacou o potencial econômico da capital paraense e a importância de pensar o evento além do calendário oficial, como um legado de desenvolvimento sustentável e social.
Segundo o prefeito, Belém quer construir uma nova matriz econômica, atraindo investimentos e fortalecendo o turismo e a industrialização local. “Queremos fazer a maior e melhor COP da história — a COP da Floresta. É hora de mostrar nossas riquezas, potencialidades e também nossos desafios”, disse.
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Energia limpa e transição justa
O evento também foi palco de um anúncio que o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, caracterizou como “em primeira mão” afirmando que o governo federal realizará, ainda este ano, o primeiro leilão de baterias da história do Brasil. A meta é alcançar 2 gigawatts.
Ele destacou o protagonismo brasileiro na transição energética, com uma matriz 90% limpa e renovável, sustentada por hidrelétricas, energia solar e eólica.
Silveira reforçou que a transição energética é também um processo social, com potencial de gerar empregos e renda em regiões vulneráveis. Ele lembrou que o Brasil é referência mundial em biocombustíveis e aprovou recentemente o “combustível do futuro”, que amplia a mistura de etanol e biodiesel nos combustíveis.
Segurança alinhada com meio ambiente
O ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, trouxe ao público presente a visão da segurança pública brasileira.
Lewandowski destacou que o crime organizado é um fenômeno global, e que o combate a crimes ambientais, como o garimpo e o desmatamento ilegal, exige uma atuação integrada entre países e forças de segurança. Ele citou a criação do Centro de Cooperação Policial Internacional na Amazônia, que reúne nove países da região para combater ilícitos transfronteiriços.
Voz das periferias
O cofundador da Central Única das Favelas (CUFA), Preto Zezé, defendeu a inclusão das favelas e periferias nos debates ambientais, afirmando que as populações urbanas também sofrem diretamente com os impactos da crise climática.
Helder Barbalho (MDB), governador do Pará, foi o responsável por encerrar o evento, em seu discurso ressaltou o simbolismo de o evento ocorrer no Theatro da Paz, ícone da cultura amazônica. Ele afirmou que o Pará está pronto para receber o mundo e que a COP30 será uma oportunidade para consolidar ações concretas de sustentabilidade, desenvolvimento e inclusão social.
“Estamos diante da chance de transformar o debate climático em ações concretas, unindo preservação ambiental e inclusão social. A Amazônia não quer apenas discutir, quer compromisso e efetividade”, afirmou o governador.
Barbalho também ressaltou a bioeconomia como nova vocação do estado e defendeu que a COP30 deixe um legado real de inovação. “Queremos mostrar que é possível produzir sem derrubar uma árvore sequer, valorizando a floresta viva e os povos que nela habitam”.