Investimemto em tecnologia e cooperação internacional foram determinantes para a prisão de um chefão do PCC na última sexta (17/5), afirmaram autoridades brasileiras em uma entrevista nesta segunda (19/5). Detalhes da operação envolvendo Interpol, Brasil e Bolívia para a prisão de Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, foram divulgados em Brasília pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e seus auxiliares.
O diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Passos, explicou que a cooperação internacional com a Interpol e com as autoridades bolivianas, como a constatação da falsidade do documento de Tuta, além da coleta da biometria do criminoso, foi fundamental para que o foragido fosse preso.
De acordo com Andrei, a polícia boliviana constatou a irregularidade de um documento de Tuta — apesar de ele ter registro oficial no país, portava uma documentação irregular do Brasil, constando outro nome.
A biometria facial dele, após as autoridades brasileiras e a Interpol terem sido acionadas, foi crucial para que o líder do PCC fosse identificado e preso.
“A cooperação internacional: a presença da PF em vários países permitiu uma rápida interação com as autoridades bolivianas e permitiu essa identificação da falsidade documental. E, fruto dessa cooperação, foi possível verificar essa inconsistência. Imediatamente, eles comunicaram à Interpol, que nos comunicou”, explicou Andrei.
Veja a íntegra da entrevista coletiva:
O diretor prosseguiu salientando que o cruzamento dos dados da PF, em apoio com a Interpol, em uma cooperação já existente entre as duas forças, concluiu de forma quase instantânea que Marcos Roberto era um foragido do Brasil. “A segunda vertente é a identificação fácil, onde conseguimos, de maneira quase instantânea — disponíveis na Interpol — confirmar quem era aquela pessoa e dar a segurança para as autoridades bolivianas fazerem a prisão em flagrante daquela pessoa”, salientou.
“Quando há um foragido internacional, é nossa atribuição fazer os trâmites para trazer esse foragido ao Brasil. A imagem da transferência dessa pessoa é uma demonstração clara dessa integração. O secretário Sandro Avelar, do DF, colocou as polícias daqui à disposição para fazermos a transferência do criminoso, na maior segurança possível, para a transferência dele ao sistema prisional federal. A entrega dele foi feita na nossa fronteira”, explicou Andrei.
O secretário-geral da Interpol, Valdecy Urquiza, explicou também que há um desejo da corporação de uma reunião, reunindo todos os chefes de polícia da América do Sul, para coibir o crime organizado. O que a corporação evidenciou, com a conclusão desse e de outros casos, é que os criminosos de alta periculosidade se acomodam em países da América para tocar seus negócios do crime.
“Nós temos uma iniciativa na Interpol de um plano de segurança para a região da América do Sul, para antecipar as ações dessas facções criminosas. Os modus operandi dessas facções são focados na atuação internacional. Elas não respeitam fronteiras — seja financeira ou até no esconderijo desses criminosos. Por isso, ainda nesta semana, sob liderança da Interpol, vamos reunir todos os chefes de polícia de países da América do Sul para focar em resposta a essas facções”, salientou Urquiza.
Tuta permanecia na Bolívia de forma “regular” com o documento em nome de Maicon da Silva. Há indícios que outros criminosos do PCC estão na Bolívia, mas informações não foram detalhadas.
Capturado
Marcos Roberto de Almeida, o Tuta, foi capturado em uma operação conjunta da Polícia Federal (PF), da Fuerza Especial de Lucha Contra el Crimen (FELCC), da Bolívia, e da Interpol, na sexta-feira (16/5), numa trama tanto policial quanto diplomática.
Lewandowski explicou o papel do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no processo de transferência do criminoso, que foi expulso da Bolívia e não extraditado, um processo que seria mais democrático e demorado.
“Foi uma operação extramente complexa, que envolveu ciência ao presidente, de que esse delinquente havia sido preso na Bolívia e Brasil tinha interessa em ele ser trasladado no menor prazo”, seguiu Lewandowski. Segundo o ministro, “como se tratava de preso em outro país, o presidente foi informado e determinou que Itamaraty fosse avisado e envolvido em negociação para trazer esse criminoso”.
O ministro Mauro Vieira, então, entrou em contato com a diplomacia boliviana e propôs a solução da expulsão. “Dada a periculosidade do deliquente e a possibilidade real de fuga, optou-se pela expulsão.”