Uma pesquisa publicada na revista Nature Medicine em março traz novas pistas sobre como o próprio sistema imunológico do cérebro pode ajudar a combater a doença de Alzheimer.
O foco do estudo está nas microglias — células que atuam como “faxineiras” do cérebro. Elas são responsáveis por remover substâncias tóxicas, como os aglomerados da proteína beta-amiloide, que se acumulam em pessoas com Alzheimer.
Algumas imunoterapias já aprovadas estimulam justamente essa função, mas os cientistas ainda tentam entender por que o tratamento funciona bem em alguns casos e em outros, não.
“Nosso estudo é o primeiro a identificar os mecanismos nas microglias que ajudam a limitar a propagação da proteína amiloide em certas regiões do cérebro após o uso de medicamentos”, explica o neurocientista David Gate, da Faculdade de Medicina Feinberg da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, em comunicado.
O que é o Alzheimer?
- O Alzheimer é uma doença que afeta o funcionamento do cérebro de forma progressiva, prejudicando a memória e outras funções cognitivas.
- Ainda não se sabe exatamente o que causa o problema, mas há indícios de que ele esteja ligado à genética.
- É o tipo mais comum de demência em pessoas idosas e, segundo o Ministério da Saúde, responde por mais da metade dos casos registrados no Brasil.
- O sinal mais comum no início é a perda de memória recente. Com o avanço da doença, surgem outros sintomas mais intensos, como dificuldade para lembrar de fatos antigos, confusão com horários e lugares, irritabilidade, mudanças na fala e na forma de se comunicar.
Microglias controlam inflamação e ajudam na recuperação do cérebro
Analisando amostras do cérebro de pessoas que morreram com Alzheimer — algumas delas tratadas com imunoterapia — os pesquisadores observaram que, além de remover os aglomerados de proteína, as microglias também conseguem controlar a inflamação que costuma acompanhar a “limpeza”. Essa combinação ajuda o cérebro a se recuperar melhor.
“Durante muito tempo, a gente se perguntou se, ao estimular essas células a removerem a beta-amiloide, elas ficariam presas nesse modo de ataque, o que poderia ser prejudicial”, explica Gate. “Mas o que vimos é que, depois de fazerem a limpeza, elas voltam ao estado normal — e isso parece ser essencial para que o cérebro consiga se recuperar”, explica Gate.
Para entender melhor como essas células atuam, os pesquisadores usaram uma técnica chamada transcriptômica espacial, que permite observar a atividade dos genes no cérebro.
Eles identificaram dois genes que se destacam nesse processo: o APOE e o TREM2, ambos já ligados ao Alzheimer em estudos anteriores. A presença ativa dos genes ajudou a explicar por que, em alguns casos, a microglia responde melhor à imunoterapia — agindo de forma mais eficiente na remoção da beta-amiloide e ajudando o cérebro a se proteger.
Caminhos para melhorar os tratamentos
As imunoterapias atuais são vistas como um avanço importante, mas ainda têm limitações — tanto em relação à eficácia quanto aos possíveis efeitos colaterais. Por isso, entender melhor como as células do próprio corpo reagem ao tratamento pode ajudar a torná-lo mais seguro e eficiente.
“Embora esses medicamentos estejam se tornando mais eficazes, eles não curam os pacientes com Alzheimer. Mas acreditamos que os dados do nosso estudo podem ajudar a melhorar os resultados”, afirma Gate.
Os pesquisadores também destacam que, em vez de depender apenas de medicamentos, uma alternativa promissora seria encontrar maneiras de “treinar” o sistema imunológico do cérebro para reagir de forma mais eficaz desde os estágios iniciais da doença. Isso pode ser essencial para frear o avanço do Alzheimer antes que os danos se tornem irreversíveis.
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