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quarta-feira, 12 março, 2025
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    Comida no “lixo”: o que pode levar o agro a rever essa medida drástica

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    A polêmica envolvendo produtores agrícolas que foram flagrados jogando parte de sua produção no “lixo” tomou as redes sociais nas últimas semanas. A questão tomou grandes proporções devido à recente alta no preço de diversos alimentos. Mas, afinal, quais soluções podem ser tomadas pelo agronegócio para fazer o escoamento eficiente da produção e evitar o desperdício de alimentos?

    Um estudo da Integration Consulting, em parceria com o Pacto Contra a Fome — movimento suprapartidário e multissetorial que tem o objetivo de erradicar a fome no Brasil até 2030 e reduzir o desperdício de alimentos no Brasil — reuniu dados existentes no Relatório e o Desperdício de Alimentos no Brasil (2022) para mapear o cenário do desperdício no país.


    Desperdício no Brasil

    • 161,3 milhões de toneladas de alimentos que o Brasil produz anualmente, 55,4 milhões são desperdiçadas por ano, desde o campo até à mesa.
    • Ainda segundo o relatório, os alimentos mais desperdiçados são frutas, hortaliças, tubérculos e laticínios, correspondendo juntos a cerca de 45 milhões de toneladas de desperdício por ano.
    • De acordo com os dados, 84% do desperdício acontece antes do alimento chegar à casa do consumidor, o que representa 47,9 milhões de toneladas.
    • Dentre os elos da cadeia produtiva, o que tem maior impacto é o produtor, com mais de 30% do desperdício total.
    • Das 55,4 milhões de toneladas de alimentos desperdiçadas, 17,3% são perdidas na produção e colheita, 10,8 milhões na pós-colheita, armazenamento e transporte, 11,9 milhões manufatura e abastecimento, 7,9 milhões no varejo alimentar e serviço de alimentos e 7,5 milhões no consumidor final.

    Para o pesquisador do observatório de bioeconomia da Fundação Getúlio Vargas (FGV Bio) e FGVAgro, Eduardo Paixão, o desperdício de alimentos, especialmente no caso de hortícolas e produtos perecíveis, está relacionado a desafios logísticos, de armazenamento e comercialização. “Em muitas situações, o custo do transporte acaba sendo maior do que o preço pago ao produtor, tornando inviável o escoamento da produção”, explica.

    Paixão aponta alguns caminhos que podem ser seguidos para amenizar esse cenário de desperdício. São eles:

    1. Apoio logístico e escoamento da produção: a redução dos custos de transporte, principalmente para produtores localizados em cinturões verdes próximos a grandes centros urbanos, poderia facilitar o acesso aos mercados consumidores e evitar descartes.
    2. Linhas de crédito e investimentos para infraestrutura: pequenos e médios produtores precisam de acesso facilitado a financiamentos para construção de estruturas de armazenagem evitando perdas e permitindo maior flexibilidade na venda dos produtos. Também são importantes os incentivos para agroindústrias locais, que possibilitam a transformação de produtos perecíveis em derivados de maior durabilidade, como polpas, farinhas e conservas, ampliando seu tempo de prateleira e agregando valor à produção.
    3. Expansão da rede de bancos de alimentos: a ampliação de iniciativas de banco de alimentos e sua integração com produtores poderia ser uma alternativa para otimizar o aproveitamento de alimentos que não encontram mercado imediato.
    4. Modernização das compras institucionais (PAA e PNAE): programas como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) desempenham um papel relevante na absorção de produtos agrícolas e na segurança alimentar, mas poderiam ser aprimorados. Um exemplo de referência é o Supplemental Nutrition Assistance Program (SNAP) dos Estados Unidos, que utiliza um sistema digitalizado para facilitar a gestão e a distribuição dos alimentos.
    5.  Organização de produtores e contratos antecipados: o estímulo à formação de cooperativas e associações facilita a comercialização da produção e possibilita a negociação de contratos de fornecimento antecipado, garantindo preços previsíveis e evitando oscilações bruscas que levem ao descarte.
    6. Política de preço mínimo: expandir essa política para mais produtos agrícolas ajudaria a proteger os produtores das flutuações do mercado, garantindo que não precisem recorrer ao desperdício como forma de manter preços equilibrados.

    O pesquisador ainda traz que, aproximar produtores e consumidores é uma estratégia eficiente para reduzir desperdícios e melhorar a rentabilidade da produção agrícola. Essa aproximação pode ser feita com plataformas digitais de venda direta, parcerias com varejo local e restaurantes, além do fortalecimento de laços dos agricultores com feiras e mercados locais.

    “Apesar dessas alternativas, é importante considerar que a logística continua sendo um fator determinante. Mesmo com mercados locais, a viabilidade econômica para os produtores dependerá da estrutura de transporte e armazenamento disponível”, conclui Eduardo Paixão.

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