O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga, às 9h desta terça-feira (11/2), o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do país, referente a janeiro.
A divulgação ocorre em meio à desancoragem das expectativas de inflação para o mercado financeiro — isto é, o distanciamento das projeções de inflação no chamado “horizonte relevante” e da meta inflacionária.
Como ficou a inflação em 2024
- A inflação fechou o ano passado em 4,83% – 0,33 ponto percentual acima do teto da meta.
- A meta inflacionária era de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual, tendo 1,5% como base e 4,5% como teto.
- Em 2024, a meta foi descumprida e o Banco Central precisou explicar os motivos ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
- O grupo Alimentação e bebidas (7,69%) teve o maior impacto na alta do índice. No ano passado, a alta nos preços dos alimentos ocorreu devido a eventos extremos, como seca e enchentes, que prejudicaram as lavouras.
- O Brasil teve deflação apenas em agosto, quando o IPCA registrou recuo de 0,02%.
Analistas financeiros, consultados semanalmente pelo Banco Central, subiram pela 17ª semana consecutiva a projeção do IPCA para este ano. Segundo o relatório Focus mais recente, a estimativa para a inflação de 2025 passou de 5,51% para 5,58% nesta semana.
Para janeiro, o mercado aposta no avanço de 0,15% dos preços de bens e produtos no Brasil.
Copom menciona “fator de desconforto” com inflação distante da meta
Para o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), “a desancoragem das expectativas de inflação é um fator de desconforto comum a todos os membros do Comitê e deve ser combatida”.
“O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista”.
Para conter o avanço dos preços de bens e produtos, o BC elevou em um ponto percentual a taxa básica de juros (Selic). No momento, a Selic está em 13,25% ao ano. É esperada mais uma alta de mesma magnitude em março, com os juros indo a 14,25% ao ano.
Na ata da reunião mais recente, o Copom observou que as expectativas de inflação cresceram de forma significativa “em todos os prazos” — o que indica uma “desancoragem adicional” —, tornando o cenário de inflação “mais adverso”.
“Um tema de risco recorrente no debate do Comitê tem sido a desancoragem das expectativas de inflação, inclusive para prazos longos. Esse processo de desancoragem leva a reajustes de preços e salários acima da meta de inflação, requerendo uma política mais contracionista do que alternativamente seria necessária se não houvesse tal desancoragem”, ponderou o BC.
Outro fator que pressiona a política monetária é a alta no custo dos alimentos. O colegiado analisou que o aumento dos preços “tende a se propagar para o médio prazo em virtude da presença de importantes mecanismos inerciais da economia brasileira”.
“Com relação aos bens industrializados, o movimento recente do câmbio pressiona preços e margens, sugerindo maior aumento em tais componentes nos próximos meses. Por fim, a inflação de serviços, que tem maior inércia, segue acima do nível compatível com o cumprimento da meta em contexto de atividade dinâmica e acelerou nas observações mais recentes”, avaliou o Copom.
Novo modelo de meta de inflação
A partir deste ano, a meta de inflação é contínua, e não mais por ano-calendário. Ou seja, o índice é apurado mês a mês. Dessa forma, se o IPCA acumulado em 12 meses ficar fora desse intervalo por seis meses consecutivos, a meta é considerada descumprida.
Em 2025, a meta de inflação é de 3%, com variação de 1,5 ponto percentual, sendo 1,5% (piso) e 4,5% (teto). Ela será considerada cumprida se oscilar entre esse intervalo de tolerância.
Se a meta for descumprida, o Banco Central precisa divulgar uma carta aberta ao ministro da Fazenda — neste caso, o Fernando Haddad — explicando as razões para o estouro. Isso porque a autoridade monetária tem o papel de controlar o avanço dos preços.
O BC contém a inflação por meio da taxa básica de juros, definida pelo Copom a cada 45 dias.
Meta pode ser descumprida em junho, avalia BC
Na ata de janeiro, o BC também admitiu a possibilidade de a inflação acumulada em 12 meses ficar acima do teto do intervalo de tolerância da meta durante seis meses seguidos — o que caracterizaria o descumprimento da meta inflacionária em 2025.
Se a inflação continuar avançando, o valor acumulado em 12 meses permanecerá “acima do limite superior do intervalo de tolerância da meta nos próximos seis meses consecutivos“, ressalta o órgão.
“Desse modo, com a inflação de junho deste ano, configurar-se-ia descumprimento da meta sob a nova sistemática do regime de metas”, destacou o Copom em trecho da ata.