O ex-ajudante de ordens Mauro Cid disse, em interrogatório no Supremo Tribunal Federal (STF), na tarde desta segunda-feira (14/7), que o ex-assessor Filipe Martins não estava na lista definitiva de passageiros do voo que levou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) aos Estados Unidos no fim de 2022, pouco antes da posse de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no cargo.
Cid afirmou que o nome do ex-assessor, indiciado pela Polícia Federal (PF), constava apenas na lista provisória para a viagem, mas não na definitiva. Martins foi inserido nas investigações por participar do núcleo golpista e supostamente ter forjado uma saída do Brasil no final daquele ano.
Leia também
-
Réus vão a depoimentos ao STF e dão “pitaco” em atuação de advogados
-
Servidor relata ao STF pedido de dados para vincular Lula a facção
-
“Enquanto eu falo, o senhor fica quieto”, diz Moraes a advogado no STF
-
STF: a Moraes, Cid reafirma que Bolsonaro editou “minuta do golpe”
Ao ser questionado pelo advogado Jeffrey Chiquini sobre a lista provisória e a definitiva da viagem de integrantes do governo a Orlando (EUA), que poderiam indicar a presença de Martins, Cid respondeu que o nome do ex-assessor não aparecia no material definitivo.
Chiquini perguntou: “O senhor [Cid] sabia que foi essa lista provisória que colocou ele seis meses na cadeia?”. O ministro Alexandre de Moraes, então, interrompeu: “Doutor, quem determinou a prisão dele fui eu. Não é o réu colaborador quem vai fazer juízo sobre a decretação da prisão. Próxima pergunta”.
Em seguida, a defesa perguntou: “Filipe Martins saiu do Brasil junto com o presidente Bolsonaro no dia 30 de dezembro de 2022?”. Cid respondeu: “Ele não estava no avião presidencial.”
De acordo com as investigações da PF, Martins teria forjado uma saída do Brasil para dificultar sua localização. Ele nega qualquer irregularidade. O nome do ex-assessor, segundo a PF, consta em um documento encontrado no computador de Mauro Cid durante apreensões. Martins também foi citado em um site do Departamento de Segurança Interna dos EUA, que teria registrado sua entrada no país.
“Prisão foi para forçá-lo a delatar mentiras”
O advogado Jeffrey Chiquini afirmou em nota que seu cliente “foi preso para forçá-lo a delatar mentiras”. Martins foi preso em 8 de fevereiro de 2024.
O ex-assessor de Bolsonaro foi preso no âmbito da operação Tempus Veritatis, deflagrada pela Polícia Federal para investigar a existência de uma organização criminosa no alto escalão do governo Bolsonaro e teve a preventiva revogada em agosto daquele ano. Precisa, porém, cumprir medidas como não ter perfis em redes sociais nem dar entrevistas.
Depois, Martins virou réu, com posturas investigadas no chamado núcleo 2, separado pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Os integrantes do núcleo 2 são acusados de ter usado a máquina pública para manter Bolsonaro no poder.
Em nota, lançada pelo advogado durante depoimento de Mauro Cid, no STF, nesta segunda-feira (14/7), Chiquini criticou com veemência a prisão e disse que Martins: “Resistiu”.
“Foi pressionado para construir uma narrativa contra o ex-presidente Jair Bolsonaro. Resistiu. Foi colocado numa solitária, mas não cedeu. Deixou claro que preferia morrer na cadeia a acusar falsamente pessoas inocentes. E agora, por ter resistido, tentam silenciá-lo”, afirmou.
Ainda na nota, Chiquini ressaltou que “como advogado de Filipe Martins, afirmo com absoluta convicção: meu cliente foi mantido preso ilegalmente por mais de seis meses, sem indiciamento, sem denúncia, sob pressão e sob tortura, com base numa acusação tão absurda quanto falsa, uma viagem que ele jamais realizou e que ele sequer era proibido de realizar. Hoje o Brasil todo sabe disso. E, como essas ilegalidades foram expostas publicamente a todos, o Filipe segue sob censura, sem poder se manifestar, sem poder conceder entrevistas e é proibido até de ser filmado ou fotografado”.