O segurança Kevin Coles, de 46 anos, passou meses sendo tratado com laxantes para dores abdominais que seus médicos atribuíram à constipação. Apenas em meados do ano passado, descobriu-se que o problema era um câncer de intestino em metástase e estado terminal.
Os sintomas de Kevin começaram no início de 2024, com dores abdominais e reclamações de uma repentina mudança de seu trânsito intestinal. Ele foi repetidamente mandado de volta para casa com a recomendação de usar laxantes.
Os médicos só se deram conta da gravidade da situação quando ele desenvolveu icterícia, o que indicou o mau funcionamento do fígado, que foi afetado pelo tumor intestinal.
O caso expõe os perigos de ignorar sintomas de desconfortos intestinais persistentes e a necessidade de investigação médica aprofundada para prevenir casos de câncer de intestino.
Como identificar sinais de alerta?
- Presença de sangue na evacuação, seja de vermelho vivo ou escuro, misturado às fezes, com ou sem muco.
- Sintomas irritativos, como alteração do hábito intestinal e que provoca diarreia crônica e necessidade urgente de evacuar, com pouco volume fecal.
- Sintomas obstrutivos, como afilamento das fezes, sensação de esvaziamento incompleto, constipação persistente de início recente, cólicas abdominais frequentes associadas a inchaço abdominal.
- Sintomas inespecíficos, como fadiga, perda de peso e anemia crônica.
Sintomas que não devem ser ignorados
O tumor de Kevin foi considerado raro por não apresentar o sangue visível nas fezes, que é comum em pacientes em nível avançado da doença. Entretanto, não é incomum que os tumores colorretais se desenvolvam por anos sem apresentar sintomas ou que eles sejam leves, segundo os médicos.
“Apesar de a doença muitas vezes ser silenciosa, o paciente deve observar se há alterações do hábito intestinal, tais como constipação, diarreia, afilamento das fezes, ausência da sensação de alívio após a evacuação (como se nem todo conteúdo fecal fosse eliminado), massas palpáveis no abdome, sangue nas fezes, dores abdominais, perda de peso sem motivo aparente, fraqueza e sensação de fadiga”, explica o oncologista Artur Ferreira, da Oncoclínicas São Paulo.
Constipação e risco de câncer de intestino
O câncer de intestino se desenvolve predominantemente a partir de mutações em lesões benignas que são formadas na porção final do intestino, em geral resultado de inflamações. Estes pólipos, formados especialmente por hábitos de alimentação pouco saudáveis, com o tempo, podem se tornar tumores. Por isso, mesmo que não sejam malignos, a recomendação é a retirada deles.
Em teoria, pode-se observar um risco aumentado do câncer colorretal em pacientes com intestino preso (constipação), pois o atraso no trânsito do intestino pode aumentar o tempo de exposição da parede intestinal às substâncias que estimulam o surgimento do câncer presentes nas fezes (carcinógenos), gerando uma maior tendência a pólipos.
Riscos do tratamento com laxantes
Por isso, mesmo constipações simples, quando muito frequentes, devem ser investigadas a fundo e não é indicado fazer uso indiscriminado de laxantes.
“Ao se abusar de suplementos e medicamentos laxantes, o intestino pode passar a funcionar apenas quando é estimulado, tornando o processo digestivo cada vez mais dependente destas alternativas”, explicou o proctologista Dirceu de Castro, do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, em entrevista anterior ao Metrópoles.
A constipação intestinal afeta cerca de 16% dos adultos globalmente, sendo mais comum em idosos e mulheres. Além disso, a constipação altera a flora bacteriana local, e pesquisas recentes sugerem que infecções intestinais por bactérias específicas podem aumentar o risco de tumores colorretais.
O caso de Kevin Coles serve como alerta para a importância de investigar sintomas persistentes e evitar autotratamentos. A detecção precoce do câncer colorretal pode salvar vidas, e a busca por orientação médica é fundamental diante de qualquer sinal de alerta.
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