Você costuma olhar as calorias no rótulo dos alimentos antes de escolher o que comer? Uma nova pesquisa sugere que esse hábito pode, na verdade, atrapalhar a decisão e levar a escolhas menos saudáveis.
De acordo com uma pesquisa publicada no Journal of Retailing em 1° de maio, quando os consumidores se concentram nas informações calóricas presentes em rótulos ou cardápios, acabam avaliando de forma menos precisa o quão saudável é um alimento.
O estudo, conduzido por pesquisadores da Texas Tech University, nos Estados Unidos, realizou nove experimentos com mais de 2 mil participantes. Em todos os testes, as pessoas eram expostas a diferentes alimentos, como saladas e cheeseburgers, e pedidas para julgar o quão saudáveis eles eram.
Quando os participantes não viam a contagem de calorias, identificavam corretamente quais alimentos eram mais ou menos saudáveis. Mas quando a informação calórica era incluída, a percepção se tornava confusa: alimentos saudáveis pareciam menos saudáveis, e os menos saudáveis, um pouco menos prejudiciais.
“As informações sobre calorias pareciam criar o que chamamos de incerteza metacognitiva, ou seja, uma sensação de ‘achei que entendia isso, mas agora não tenho tanta certeza’”, escreveu a pesquisadora Deidre Popovich, em artigo publicado no The Conversation.
Familiaridade que gera confusão
A presença constante das calorias nos ambientes de consumo, seja em supermercados, restaurantes ou embalagens, faz com que as pessoas acreditem que sabem como usá-las. Mas os dados sugerem que essa familiaridade pode criar uma falsa sensação de compreensão, que atrapalha em vez de ajudar.
“Descobrimos que as calorias são especialmente propensas a criar essa ilusão de entendimento. Quando as pessoas são solicitadas a julgar a saúde de um alimento com base nas calorias, essa confiança se desfaz rapidamente e seus julgamentos sobre a saúde se tornam menos precisos”, explica Popovich.
Essa falsa confiança leva os consumidores a moderarem seus julgamentos. Em vez de perceberem com clareza quais alimentos são muito saudáveis ou pouco saudáveis, tendem a colocar tudo no mesmo nível, o que pode resultar em escolhas menos adequadas para a saúde.
Rótulo precisa ser mais claro
A pesquisa destaca uma preocupação importante para políticas de saúde pública e ações de marketing nutricional. Muitas iniciativas apostam na transparência da informação calórica como forma de orientar o consumidor. No entanto, os autores alertam que a visibilidade da informação não garante sua utilidade.
Uma alternativa apontada pela pesquisadora seria acompanhar as calorias com referências visuais ou contextos mais claros, como sistemas de semáforo (cores verde, amarela e vermelha para indicar o grau de salubridade) ou pontuações nutricionais gerais, como já ocorre em alguns países europeus.
Outra possibilidade seria apresentar as calorias junto da recomendação diária média, embora isso possa ser difícil, já que as necessidades calóricas variam entre as pessoas.
Os autores concluem que a simples presença da informação não é suficiente para melhorar a qualidade das escolhas alimentares. Para que os dados realmente contribuam, é necessário que estejam inseridos em um contexto educativo e fácil de interpretar.
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