De acordo com o delegado Heraldo Guerreiro, Deise Moura dos Anjos, presa sob suspeita de matar quatro pessoas com um bolo envenenado com arsênio, no Rio Grande do Sul, poderia pegar mais de 100 anos de prisão “se estivesse viva, fosse julgada e condenada”. A Polícia Civil do estado concluiu o inquérito do caso que ficou conhecido como “Bolo envenenado”. De acordo com o documento, Deise agiu sozinha no crime.
A mulher foi encontrada morta na Penitenciária Estadual Feminina de Guaíba, na Região Metropolitana de Porto Alegre, no dia 13 de fevereiro. Ela teria se desesperado, após o marido pedir o divórcio e a aliança de volta, e tirado a própria vida.
Caso estivesse viva, Deise dos Anjos seria indiciada por quatro homicídios triplamente qualificados (motivo fútil, emprego de veneno e dissimulação) e quatro tentativas de homicídio triplamente qualificadas. Com a morte, o Código Penal prevê a extinção de punibilidade.
“Ela é a única autora, até o momento, deste fato criminoso. Em razão de seu falecimento, de ela ter tirado a própria vida no presídio de Guaiba (RS), levou à extinção da punibilidade”, explicou o delegado Fernando Sodré durante coletiva de imprensa.
Linha do tempo do crime
- Agosto de 2024: Deise compra 100 gramas de arsênio, segundo a polícia.
- 2 de setembro de 2024: sogros usam o leite em pó, contaminado com arsênio, levado por Deise para fazer café, e passam mal. Paulo Luiz dos Anjos, sogro de Deise, morre sob suspeita de intoxicação alimentar. A polícia afirma que ele foi envenenado e que Deise tentou convencer a família a cremar o corpo.
- 16 de novembro a 20 de novembro de 2024: Deise envenena a farinha do bolo.
- 24 de dezembro de 2024: Neuza e Maida, irmãs da sogra de Deise, e Tatiana, prima do marido da mulher, falecem após comer o bolo. O filho de Tatiana, de 11 anos, e Zeli são hospitalizados em estado grave.
- 27 de dezembro: quatro dias após o envenamento, o celular de Deise é apreendido.
- 3 de janeiro: filho de Tatiana recebe alta hospitalar.
- 5 de janeiro: Deise é presa preventivamente.
- 8 de janeiro: a polícia exuma o corpo de Paulo Luiz dos Anjos e comprova envenenamento com arsênio.
- 10 de janeiro: Zeli, sogra de Deise e principal alvo do crime, recebe alta hospitalar.
- 31 de janeiro: Justiça prorrogou a prisão temporária de Deise.
- 13 de fevereiro: Deise é encontrada morta na cela.
De acordo com a delegada regional do Litoral Norte, Sabrina Deffente, Deise dos Anjos “tinha uma grave perturbação mental”. “Até se cogitou motivação financeira, mas quando descobrimos que tentou matar marido e filho, a motivação financeira foi descartada. O único motivo encontrado foi grave perturbação mental”, disse a delegada.
Após a morte de Deise, a perícia encontrou alguns bilhetes em sua cela. Em entrevista ao Metrópoles, o chefe da Polícia Civil, delegado Fernando Sodré, disse que Deise teria deixado um “tipo de desabafo” por escrito.
“Ela escreveu alguns bilhetes. Primeiro, tem uma camiseta em que ela escreveu um desabafo, dizendo: ‘Não sou assassina, só sou um ser humano fraco com depressão por tanto sofrer e pagar pelo erro dos outros’. É uma série de cartas. No primeiro momento, vimos apenas a camiseta, mas, depois, na avaliação detalhada do local, apareceram alguns escritos”, contou o delegado.
Segundo ele, Deise nunca havia admitido ter comprado o veneno, mas, nas cartas deixadas, ela diz ter comprado arsênio para ela e culpa a sogra por isso.