A novela Beleza Fatal, produção original da Max, se tornou um fenômeno nas redes sociais. Com o último capítulo marcado para sair nesta sexta-feira (21/3), a trama, que estreou em janeiro no streaming, acumula milhares de fãs que discutem cada reviravolta e se envolvem com os personagens de forma intensa na web. O sucesso da novela, segundo especialistas, vai além dos números e reflete uma nova forma de consumir teledramaturgia.
O especialista em teledramaturgia Mauro Alencar, doutor pela USP, destaca a qualidade da produção como um dos pontos fortes da novela: “Direção e produção realizaram uma exata leitura da obra de Raphael Montes e o elenco, muito bem escalado, soube aproveitar cada nuance do primoroso texto com temática altamente contemporânea”, disse em entrevista ao Metrópoles.
Segundo Alencar, a novela se destaca por equilibrar com maestria “o novo, o moderno e as bases oitocentistas do folhetim e do melodrama”. Ele também aponta Beleza Fatal como o exemplo mais bem-sucedido, até o momento, de uma produção feita para o streaming.
A trama também demonstrou a força do formato no ambiente digital. “Hoje fala-se muito na maior liberdade criativa no streaming. É verdade, pois você não está ‘engessado’ numa grade televisiva aberta a qualquer tipo de público”, explica Alencar.
Polêmicas e TV aberta
A exibição da novela na Band, por exemplo, precisou de cortes para se adequar ao formato tradicional, além de não agradar alguns dos atores da produção, como Caio Blat, que interpreta Benjamin, marido da vilã Lola.
O ator afirmou recentemente que os artistas não têm nenhuma participação nos direitos de imagem deles na novela. Ou seja, não recebem a mais pela nova exibição.
A audiência da produção na TV aberta também deixou a desejar. Sucesso absoluto no streaming, o folhetim estrelada por Camila Pitanga, Camila Queiroz e Giovanna Antonelli marcou apenas 1,6 pontos em São Paulo durante a noite de estreia.

Diferencial e “trunfo” de Beleza Fatal
Mauro ressalta que a conexão da trama com o público mais jovem também é um ponto chave. “A temática está na ordem do dia (a tal da beleza aparente e que pode ser fatal, como foi desde o primeiro capítulo”.
Raphael Montes, autor da novela, também destacou a questão de gerações como um ponto positivo para o sucesso. “Tenho visto muita gente falando que não via novela há muitos anos. Gente mais jovem falando que nunca viu novela. Ou seja, Beleza Fatal é a primeira novela de uma geração”, afirmou Raphael em entrevista ao podcast Um Milkshake Chamado Wanda.
Além disso, o autor acredita que a abordagem da novela também mistura elementos clássicos com inovações narrativas. “É uma novela das 19h com tema de novela das 21h. Ela une o clássico, e isso vem pelo fato de que eu sou muito noveleiro. Mas, ao mesmo tempo que ela começa muito clássica, ela vira outra coisa. Ela traz todos os assuntos que não são de uma novela clássica. Isso é muito legal. Essa união do novo com o clássico”, destaca.
Mistura de gêneros
Adriana Amaral, coordenadora do CULTPOP, destaca a interação intensa dos fãs nas redes sociais. “Tem muita produção de meme, muita discussão, acredito que deva ter fanfics, principalmente nos relacionamentos LGBTs, já que têm bastante personagem dentro dessas minorias”.
Segundo ela, a novela incorporou elementos do universo digital, como “o mundo das influenciadoras, os recebidos, e a vilã falando que a TV aberta é o sogro dela e ela é o streaming”.
O impacto da novela pode ainda influenciar as estratégias futuras das produções brasileiras. “Agora estamos vendo outros caminhos que as telenovelas estão percorrendo, mantendo a questão do melodrama, mas também trazendo novidades em termos de linguagem”.
“Lolovers”: a mobilização dos fãs
O apelo da novela e, claro, da vilã, Lola, vivida por Camila Pitanga, é tão grande, que surgiram grupos de fãs nas redes sociais. Bares e restaurantes de todo o Brasil também se mobilizaram para criar uma programação especial para exibir o final da trama.
Aline, de 48 anos, jornalista de São Leopoldo (RS), por exemplo, criou um grupo no WhatsApp com as amigas para comentar sobre a novela. “De tanto que falávamos da novela, uma de nós teve a ideia de criar um grupo só para falar disso, o nome só poderia ser ‘Lolovers’. Tem 10 membros”, conta.
Lola virou até fantasia de Carnaval, assim como Fernanda Torres, estrela do filme Ainda Estou Aqui, vencedor do Oscar. As pessoas foram às ruas de todo o país com roupas extravagantes, assim como a personagem, e plaquinhas com os famosos bordões dela, que também viraram febre nas redes.