A ausência dos presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), arranhou de certa maneira a cerimônia de sanção da isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil. O evento, realizado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Planalto, nesta quarta-feira (26/11), também contou com baixa adesão de líderes do Centrão, refletindo o clima de disputa entre o Executivo e o Legislativo.
Representantes do governo Lula, sob reserva, amenizaram a situação. Assumem que a contenda com os dois presidentes do Congresso levou à ausência de Motta e Alcolumbre, mas afirmaram que a situação será superada logo. Esses auxiliares do presidente também minimizaram a ausência dos líderes, indicando que o dia era de sessão nas comissões do Legislativo.
No caso da Câmara, o líder do PSD, Antônio Brito (BA), foi o único representante do chamado Centrão. No Senado, compareceram o líder do MDB, Eduardo Braga (AM), e Eliziane Gama (PSD-MA), que representa o blocão formado pelo seu partido com o PSB.
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A falta foi citada no discurso da ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann. “A ausência dos presidentes em nada ofusca a importante condução e apoio que deram a essa matéria […] Só chegaríamos ao dia de hoje compartilhando com o Legislativo essa proposta”, afirmou a articuladora política de Lula.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, também comentou. De acordo com o titular da pasta, Motta e Alcolumbre foram “diligentes” na tramitação da proposta. “Sem isso, não seria possível que tivesse validade em 2026. Era imperioso aprovar o projeto em 2025. O país precisa muito deles. Para que possamos concluir exitosamente esse ano”, disse.
Mas houve climão. Ao fim do discurso do presidente Lula, representantes de centrais sindicais começaram a gritar “fora, Centrão”, sem citar nomes. O relator na Câmara do projeto de isenção do IR, Arthur Lira (PP-AL), é considerado um dos principais expoentes desse grupo político.
As brigas
Cada um com seu motivo particular para não querer aparecer sorrindo ao lado de Lula, Motta e Alcolumbre avisaram a aliados na véspera que n]ao compareceriam à cerimônia.
Motta vive um momento de embate com o líder do PT, Lindbergh Farias, e uma ala do governo Lula por causa do PL Antifacção. Eles romperam relação pelo voto da base governista contra a proposta. O Planalto não aceitou quando o presidente da Câmara deu a relatoria do projeto, gestado pelo Ministério da Justiça, a um oposicionista, que mudou o texto e incluiu dispositivos como a retirada de recursos da Polícia Federal (PF), por exemplo.
Segundo aliados, Motta ainda estaria desconfiado com o governo desde o evento do Dia dos Professores. Apesar de estar ao lado do presidente Lula, o presidente da Câmara enfrentou vaias de petistas ao comparecer à cerimônia realizada em outubro. O deputado não quer dar oportunidade de o episódio se repetir.
Já Alcolumbre rompeu com o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), e não quer papo com o Planalto. Ele não aceitou a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, ao Supremo Tribunal Federal (STF). Ele tinha preferência pelo antecessor, o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Segundo aliados, Alcolumbre avisou que votaria contra qualquer outro indicado que não fosse Pacheco. Prometeu, porém, que não seguraria a análise da indicação, como de fato ocorreu. Ele marcou a análise de Messias para o dia 10/12.
Em reposta a Lula, Alcolumbre pautou e aprovou um projeto que prevê a aposentadoria especial para agentes de saúde, com impacto que pode chegar a R$ 14 bilhões nos cofres públicos.



