Um estudo publicado na revista Nature em 23 de abril aponta que uma toxina produzida por bactérias intestinais pode estar ligada ao crescimento acelerado dos casos de câncer colorretal em pessoas com menos de 50 anos.
A pesquisa analisou amostras de tecido de 981 pacientes com câncer de intestino em 11 países e identificou um padrão genético recorrente nos casos de diagnóstico precoce. Segundo os cientistas, mais da metade dessas amostras continha mutações associadas à colibactina, uma toxina produzida por algumas cepas da bactéria Escherichia coli, presente naturalmente no intestino humano.
“Esses padrões de mutação são uma espécie de registro histórico no genoma e apontam para a exposição precoce à colibactina como uma força motriz por trás do início precoce da doença”, explica Ludmil Alexandrov, biólogo computacional da Universidade da Califórnia em San Diego, em comunicado.
Exposição pode ocorrer na infância
Embora a colibactina já tenha sido relacionada ao câncer colorretal, é a primeira vez que sua ação é estudada em pessoas jovens. Os cientistas acreditam que a exposição nociva à toxina provavelmente ocorre nos primeiros dez anos de vida, possivelmente por meio de infecções infantis.
“Se alguém adquire uma dessas mutações propulsoras antes dos 10 anos de idade, pode estar décadas adiantado no desenvolvimento do câncer colorretal, desenvolvendo-o aos 40 anos em vez de aos 60”, afirma Alexandrov.
De acordo com o estudo, mutações ligadas à colibactina foram 3,3 vezes mais comuns em adultos diagnosticados antes dos 40 anos do que naqueles com mais de 70. Já nos casos mais tardios, as mutações no DNA estavam associadas ao envelhecimento natural.
Estilo de vida também pode influenciar
Outros fatores já tinham sido apontados como possíveis causas do aumento do câncer colorretal em jovens, como o consumo excessivo de alimentos ultraprocessados, bebidas açucaradas e álcool. Agora, os cientistas sugerem que fatores ambientais ou comportamentais muito precoces podem “plantar as sementes” da doença décadas antes do diagnóstico.
Mais estudos são necessários para entender como a colibactina age e de que forma sua ação pode ser evitada. Os pesquisadores também querem investigar se diferentes causas ambientais explicam a variação dos casos entre países.
“É possível que diferentes países tenham diferentes causas desconhecidas. Isso poderia abrir caminho para estratégias de prevenção direcionadas e específicas para cada região”, afirma Marcos Díaz-Gay, do Centro Nacional de Pesquisa do Câncer da Espanha.
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