O atleta inglês Tom Brazier, de 27 anos, quase morreu por conta de uma doença cardíaca rara que silenciosamente debilitou sua saúde e foi descoberta a poucas horas de matá-lo. O diagnóstico de dissecção de aorta só foi feito graças à insistência da esposa dele de que o marido fosse examinado.
Atleta profissional e treinador de críquete, um popular esporte inglês, Tom começou a sentir os sintomas em outubro de 2023, quando sentiu uma dor forte no peito que subia até a mandíbula. Apesar da intensidade da dor, ele acreditou que estava tendo uma reação alérgica.
A doença cardíaca de Tom
O que Tom não sabia é que, apesar de sua vida dedicada ao esporte, ele tinha uma malformação que prejudicava o funcionamento do coração e que estava levando a aorta, a maior artéria do corpo, a se degradar a ponto de quase romper.
“Eu não sabia que tinha defeitos cardíacos congênitos que contribuíram para minha dissecção aórtica”, afirma ele em um texto em suas redes sociais. Ele tinha a valva aórtica bicúspide, em vez de tricúspide, como a maioria das pessoas.
A aorta é responsável por transportar sangue rico em oxigênio do coração para o resto do organismo. Por ser uma importante via circulatória, ela é formada com três camadas de paredes que a reforçam. Entretanto, em algumas pessoas, a camada interna se rompe e o sangue passa a circular por dentro das paredes em uma condição chamada de dissecção de aorta, que é potencialmente fatal.
“Mais de 90% das dissecções aórticas se apresentam com dor intensa no peito que pode ser confundida com infarto. Os médicos de emergência devem manter um alto índice de suspeita de síndrome aórtica em todos os pacientes de emergência”, escreveram os médicos do Hospital Mount Sinai, em Nova York, em um artigo sobre a doença em 2024.
Fatores de risco para a dissecção de aorta
- A pressão alta não controlada pode enfraquecer a aorta ao longo do tempo, tornando-a mais propensa a romper.
- Ter aterosclerose (endurecimento das artérias) e coarctação da aorta (estreitamento da aorta ao nascer) também são fatores de risco para a doença.
- Outras condições que enfraquecem a parede da aorta, como um aneurisma, também podem tornar a dissecção aórtica mais provável.
- Algumas pessoas nascem com uma condição que faz com que a parede da aorta enfraqueça. Entre elas estão as síndromes de Ehlers-Danlos e de Loeys-Dietz, além da valva aórtica bicúspide.
Diagnóstico certo por insistência da mulher
Sem saber que tinha a condição, Tom foi levado para o hospital pelos familiares. Ele foi inicialmente diagnosticado com pericardite, uma inflamação ao redor do coração, e recebeu analgésicos e antibióticos.
No entanto, sua parceira, Emma Spong, notou que ele mal conseguia andar 10 metros sem ficar sem fôlego e que permanecia mal mesmo após o tratamento. Querendo voltar ao trabalho, Tom insistiu com os médicos que estava bem, mas Emma discordou e fez questão que os médicos pedissem uma tomografia computadorizada.
O exame revelou uma dissecção aórtica de 8,3 cm que estava a ponto de estourar e causar uma hemorragia potencialmente fatal. Tom foi submetido a uma cirurgia cardíaca de emergência e ficou de peito aberto por 12 horas.
A cirurgia, que incluiu a substituição do arco aórtico e da válvula cardíaca, salvou a vida de Tom. “Passei o mês seguinte no hospital com altos e baixos, mas com o apoio das pessoas mais próximas de mim! Minha parceira Emma foi minha verdadeira inspiração para continuar lutando durante aqueles momentos difíceis e seu apoio inabalável me manteve motivado para sair do hospital e começar minha reabilitação”, afirma ele.
Em março de 2024, ele já corria 5 km confortavelmente, um marco em sua recuperação. Agora, o casal se prepara para correr a Maratona de Londres em abril, com o objetivo de arrecadar fundos para a Heart Research UK, organização que promove conscientização sobre doenças cardíacas não diagnosticadas e oferece treinamentos para médicos se atentarem mais rápido a estas condições.
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