Uma ação do tenente-coronel Edson Melo, mais conhecido como Edson Raiado, da Polícia Militar de Goiás (PMGO), terminou com a morte de um verdadeiro arquivo vivo do Primeiro Comando da Capital (PCC), o piloto Felipe Ramos Morais, de 36 anos, em 2023.
Felipe Ramos Morais teve uma trajetória que exemplifica a transformação de um jovem sonhador em um criminoso de alta periculosidade.
Sua história é marcada por uma combinação de paixão pela aviação, escolhas questionáveis e envolvimento profundo com o Primeiro Comando da Capital (PCC).
Paixão por aviação
Nascido e criado na Zona Sul de São Paulo, Felipe cresceu nas proximidades do aeroporto de Congonhas. Desde cedo, era fascinado pela aviação. Ele passava horas contemplando o movimento dos aviões da janela de sua sala de aula no colégio católico Santos Anjos.
Em casa, alimentava essa paixão com uma coleção de aviões e helicópteros de brinquedo.
Filho mais velho de uma família de classe média alta, Felipe tinha um pai engenheiro e uma mãe advogada. Aos 13 anos, começou a frequentar o Campo de Marte, onde trabalhava nos hangares, consolidando seu amor pela aviação.
Apesar de um bom desempenho acadêmico, Felipe não conseguiu ingressar na Academia de Polícia Militar do Barro Branco. Mudou-se para Guarujá com seu pai, onde fez suas primeiras conexões com o PCC, segundo a Polícia Federal.
Em 2008, aos 22 anos, obteve sua habilitação para piloto de helicóptero. Com a herança do avô, comprou um Robinson R44 e iniciou uma empresa de táxi aéreo, que seria a fachada para o transporte de cocaína para o PCC.
Ascensão no mundo do crime
Com o tempo, Felipe se tornou um dos pilotos de confiança do PCC. Construiu um império avaliado em 19,5 milhões de reais, incluindo várias aeronaves, lanchas e automóveis.
Seu envolvimento com o tráfico de drogas foi descoberto em 2012, quando foi preso transportando 174 kg de cocaína. Apesar da condenação, passou pouco tempo na prisão e logo retomou suas atividades ilícitas.
Felipe foi indiciado várias vezes por tráfico e outros crimes, mas conseguiu evitar condenações, muitas vezes devido à falta de evidências diretas ou à sua habilidade em operar nas sombras.
“Voo da morte”
O “voo da morte” refere-se a um episódio envolvendo Felipe Ramos Morais, piloto associado ao Primeiro Comando da Capital (PCC), que resultou na morte dos líderes da facção Rogério Jeremias de Simone, conhecido como Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, conhecido como Paca. O incidente ocorreu em fevereiro de 2018, no Ceará.
Gegê do Mangue e Paca eram líderes de alto escalão do PCC e estavam em liberdade condicional. Eles foram levados para uma emboscada em uma área rural do Ceará, a bordo de um helicóptero pilotado por Felipe Ramos Morais.
O plano foi orquestrado pela própria facção, que acusava Gegê de desviar dinheiro do grupo e de não cumprir promessas feitas à organização, incluindo a falha em resgatar Marcola, líder máximo do PCC, da prisão.
Felipe foi contratado para pilotar o helicóptero que levou Gegê e Paca para a emboscada. Eles foram assassinados a tiros após o pouso. Segundo investigações, o assassinato foi ordenado por Gilberto Aparecido dos Santos, conhecido como Fuminho, que era próximo a Marcola e havia percebido que Gegê não tinha interesse em cumprir suas promessas à facção.
Após o crime, Felipe se entregou à polícia e colaborou com as autoridades em um acordo de delação premiada. Ele negou ser membro do PCC, afirmando que foi contratado por um intermediário chamado “Cabelo Duro” e que não conhecia as vítimas nem sabia dos planos para o assassinato. Sua colaboração fez dele um alvo da facção, resultando em ameaças à sua vida.
A morte do piloto do PCC
Na manhã de 17 de fevereiro de 2023, o tenente-coronel Edson Raiado e o major Renyson Castanheira Silva invadiram uma fazenda pelos fundos, em uma área rural entre Abadia de Goiás e Goiânia, e mataram a tiros não só o piloto Felipe, mas também o gerente da empresa dele, Nathan Moreira Cavalcante, de 21 anos, e o mecânico de aeronaves, Paulo Ricardo Pereira Bueno, de 37.
Dos 15 tiros que mataram os três homens, 12 foram disparados por Edson. Ele e o major Renyson alegam que foram recebidos a tiros. O caso foi arquivado em agosto do ano passado, mas com ressalvas do Ministério Público de Goiás, que apontou que o local do suposto confronto foi alterado.
“Não houve robusta produção de provas aptas a sufragar a tese de legítima defesa”, escreveu o promotor Spiridon Anyfantis.
A dupla de policiais que matou os três homens diz que chegou até essa chácara após uma denúncia anônima. Os PMs apresentaram cerca de 5 kg de cocaína e três armas que teriam sido apreendidas com os mortos. No local das mortes, que era usado para pintura e conserto de aeronaves, havia três helicópteros.