A minissérie Adolescência, da Netflix, segue entre as produções mais assistidas no Brasil e tem provocado reflexões sobre o impacto das redes sociais na vida dos jovens. Além disso, a trama gerou discussões sobre a influência dos pais no comportamento dos filhos.
Segundo o pediatra e mestre em Saúde Pública Daniel Becker, a relação entre pais e filhos pode evitar comportamentos extremos como os retratados na história.
Sobre o que Adolescência fala
- A trama da série acompanha as mudanças na vida da família Miller, após Jamie Miller, um jovem de 13 anos, ser acusado de assassinar uma adolescente da escola que frequenta.
- Segundo os criadores, a produção tem como foco explorar como os jovens são influenciados pelo ambiente familiar, social e digital.
- São trabalhados os efeitos que discursos misóginos e conservadores podem ter na criação dos filhos, especialmente dos meninos.
“Nossos meninos precisam de cuidado. O que está acontecendo é grave, e não pense que isso nunca pode chegar à sua família. Construir uma conexão na infância é essencial para gerar confiança na adolescência. Nessa fase, é fundamental escutar, apoiar e impor limites firmes para sermos guias e portos seguros desses jovens”, afirmou o especialista em um vídeo publicado no Instagram.
O profissional reforçou a necessidade da supervisão ativa dos pais sobre o uso da internet e lembrou que “o primeiro ponto é entender que não há soluções individuais”.
“Estamos enfrentando algumas das empresas mais poderosas do mundo, que investem bilhões em neurociência e programação para nos manter viciados. Elas querem que passemos o máximo de tempo conectados”, alertou, em entrevista à Trip Fm.
Dicas para a melhor criação dos filhos adolescentes
- O pediatra aconselha que os pais escutem e conversem com os filhos sem dar sermões, além de oferecer apoio em situações problemáticas.
- Ele também afirma que o ideal é que o uso das redes sociais comece após os 15 anos. Quanto mais tarde, melhor para o desenvolvimento emocional e psicológico.
- Outras sugestões são limitar o tempo de tela, ter acesso direto ao celular do adolescente e monitorar contatos e grupos de mensagens.
- Becker também indica que os familiares vejam conteúdos que os filhos consomem e dialoguem com eles sobre temas como violência, misoginia, igualdade de gênero, empatia, ética, tolerância, respeito, privacidade e sexualidade.
Pediatra explica o perigo das redes sociais
Daniel Becker explicou que comportamento de alguns meninos começa com o compartilhamento de memes, assim como Jamie, de Adolescência. Em seguida, pode evoluir para piadas que banalizam a violência, como o feminicídio; e até culminar na criação de nudes falsos com IA para expor colegas. Essa escalada é alimentada pelo acesso a conteúdos violentos e polarizadores nas redes sociais, que atraem especialmente adolescentes vulneráveis em busca de pertencimento.
Como resultado, esses meninos são moldados pelo ódio, tornando-se racistas, intolerantes e preconceituosos, chegando a defender o estupro. Além disso, muitos sonham em ser influenciadores, seduzidos pela promessa de riqueza fácil, e iniciam a vida sexual consumindo pornografia extrema, que objetifica as mulheres, levando-os a acreditar em padrões irreais de corpo e sexualidade, concluiu o pediatra.