A contratação de atores sem registro profissional voltou ao centro do debate na indústria audiovisual após a revelação de que Rafael Vitti não possuía o DRT, documento obrigatório para atuar em novelas, séries e filmes.
O ator buscou regularização junto ao Sindicato dos Artistas do Rio de Janeiro (Sated-RJ), mas seu caso expôs um problema maior: a presença crescente de influenciadores digitais em produções, muitas vezes sem a formação exigida.
Em entrevista à Contigo!, Hugo Gross, presidente do Sated-RJ, destacou que a entidade poderia ter barrado o pedido de Vitti, mas levou em consideração sua trajetória na TV.
“Ele já tinha feito outros trabalhos. A gente poderia até ter negado. Os cisneiros, a diretoria e o sindicato podiam ter negado, mas a gente tem também um bom senso. A gente mais uma vez… O sindicato não está aqui para proibir ninguém de trabalhar”, disse Gross.
“Nós estamos aqui fazendo as coisas para cumprir a lei e proteger o trabalhador da arte. É isso que o Sated faz (…) Quem é artista que não tem registro e quer se profissionalizar, tem que estudar”, afirmou.
O presidente do sindicato também criticou a priorização de números sobre qualificação por parte das emissoras, especialmente a Globo. Segundo ele, a lógica da audiência tem aberto espaço para pessoas sem preparo técnico.
“‘Nossa, olha só, fulana tem… Rafa Kaliman tem milhões de seguidores’. Olha que bicho deu. Notório ver o fracasso disso sem estudo. Então, a pessoa pode ser muito gente boa, muito bacana, mas não entende da interpretação, não entende da tônica de um texto, não sabe se posicionar perante a uma câmera ou perante a um palco. Então, hoje em dia, é só ter seguidores que vai virar Fernanda Montenegro, vai virar Carlos Vereza? Não, né?”, criticou.
Embora Vitti tenha regularizado sua situação, Gross apontou que a responsabilidade maior recai sobre as próprias emissoras, que contratam sem exigir o registro profissional.
![Rafa Kalimann se pronunciou após polêmica](https://uploads.metroimg.com/wp-content/uploads/2024/12/02120851/rafa-kalimann-3-3.jpg)
“Eu entendo que as emissoras colocam ele no largo dos leões e não está nem aí porque ela está preocupada com o número, com ibope, com dinheiro, com salário. Então, ela pega as pessoas que têm seguidores e coloca ali, sem eira nem beira. E a gente que descobriu, o Sated que descobriu que ele não tinha registro. Coitado, Rafael Vitti é um bom menino. Esteve no sindicato, humildemente, conversou…”, relatou.
“Eu fiz uma novela com o pai dele e ele chegou de boa lá, mostrando que ele fazia o trabalho e que foi a própria TV Globo que chamou ele para fazer e não sabia como é que era. Então dei uma oportunidade. Mas a TV Globo é que é culpada de contratar sem registro profissional. Por que? Porque ela não valoriza isso. Ela valoriza o número”, declarou.
O presidente do Sated-RJ também questionou a forma como as emissoras tratam seus veteranos: “Quando ela quer mandar alguém embora também, ela não valoriza o idoso que se dedicou anos e anos que trouxe para ela milhões de reais. Ela manda embora então da mesma maneira na escala que dentro da cabeça dela”, disse.
“E é um nicho de pessoas ali dentro. E tenho certeza que a família Marinho não sabe disso. Tenho certeza até que o senhor Amauri Soares não sabe disso, mas tem um grupo lá que pensa que manda, que acho que é Deus mesmo, né?”, disparou.
Gross ainda revelou que o sindicato já flagrou tentativas de produtoras de burlar as exigências legais e garantiu que a fiscalização continuará rigorosa. “A gente está sempre de olho aberto. Então, a gente mostra a transparência que eles não têm quando escalam sem registro e a gente descobre. Isso que é chato”, finalizou.
A polêmica reacende a discussão sobre a valorização da qualificação no meio artístico e o papel das emissoras na formação do elenco, trazendo à tona o embate entre engajamento digital e competência técnica no mercado audiovisual.