O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem, nesta terça-feira (15/7), seu primeiro teste de fogo na tentativa de se reaproximar do empresariado. O vice-presidente Geraldo Alckmin, que acumula o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, encontrará durante o dia representantes dos setores mais atingidos pela taxação de 50% anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a produtos brasileiros.
Há expectativas sobre o que deve prevalecer nas reuniões: o apelo por união entre Lula e o setor produtivo diante da ameaça do que o Planalto passou a considerar um “inimigo em comum”, ou o clima de embate promovido nas últimas semanas pelos partidos de esquerda, na busca por uma justiça social lastreada na taxação dos mais ricos e de setores da economia hoje isentos.
O governo Lula considera a ofensiva de Trump contra o Brasil uma rara oportunidade de se reaproximar politicamente dos setores produtivos da economia, principalmente os que se alinharam ao bolsonarismo na última década, como indústria e agronegócio. Nos bastidores do Planalto, aliados consideram que o presidente demonstrou entusiasmo para tentar reviver a “era de ouro” da relação com o empresariado, vivida nos seus dois primeiros governos.
Entenda a disputa entre Trump, Lula e Bolsonaro
- Trump tem ameaçado o mundo com um tarifaço, desde o início do atual mandato, e dá atenção especial ao grupo do Brics e ao Brasil.
- Na última quarta-feira (9/7), o presidente dos EUA anunciou a taxação de 50% aos produtos brasileiros, a partir de 1/8. Ele pediu o fim do que considera uma “caça às bruxas” contra o ex-presidente Jair Bolsonaro no Brasil.
- Lula informou que a resposta brasileira à taxação será por meio da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica. O decreto que regulamenta o dispositivo será publicado nesta terça.
Pedido de socorro
A avaliação de interlocutores do presidente da República é que nem mesmo o agronegócio e os grandes empreendedores aceitarão calados a taxação de Trump, anunciada de “surpresa” como uma retaliação política ao inquérito que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) responde no Supremo Tribunal Federal (STF). Frentes parlamentares que geralmente fazem oposição a Lula se manifestaram contra a decisão dos EUA e pediram socorro ao governo petista.
Nesse sentido, Alckmin foi escalado por Lula para liderar o diálogo com os empresários. Ex-governador de São Paulo e ex-tucano, o ministro tem um melhor histórico na relação com a indústria. A expectativa do Planalto é que o ministro também tentará se apresentar como um contraponto ao atual governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), que apoiou Trump após o anúncio da medida.
Alckmin encontrará 10h representantes da indústria de aviação, aço, alumínio, celulose, máquinas, calçados, sapatos, móveis e autopeças. O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, foi convidado. Às 14h, será a vez da agenda com o agronegócio. Serão nomes de setores de suco de laranja, carnes, frutas, mel, couro e pescados. Nesse caso, também foram convidados à mesa o Ministério da Agricultura e Pecuária, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o Ministério da Pesca.
O comitê
Nesse sentido, o governo espera que a crise o aproxime em definitivo dos empresários. O comitê que discutirá as reações a Trump deve ser criado em caráter permanente, com possibilidade de ser acionado em eventuais casos semelhantes com outros parceiros comerciais significativos. O grupo será criado no decreto que regulamenta a Lei de Reciprocidade Econômica.
O dispositivo foi aprovada pelo Congresso em abril, como reação ao primeiro tarifaço. Ele dá ao governo a possibilidade de adotar ações comerciais em resposta a medidas unilaterais de outras nações ou blocos econômicos. A regulamentação oficializará Geraldo Alckmin como coordenador, e também fixará a participação os ministros Rui Costa (Casa Civil), Mauro Vieira (Ministério das Relações Exteriores), e Fernando Haddad (Ministério da Fazenda).
Segundo Alckmin, que acumula o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços indústria, empresas estadunidenses serão convidadas. “Há a integração de cadeia. Somos o 3º comprador do carvão siderúrgico dos EUA. (…) As empresas americanas também serão atingidas. Então vamos conversar com as companhias, entidades e Câmara Americana de Comércio (Amcham)”, disse.