A Sociedade Brasileira de Bioética (SBB), que completa 30 anos em abril, está lançando um videocast “Questões da Vida”, com estreia marcada para a próxima quinta-feira (17/4) no Youtube e no Spotify.
Com a presidência da doutora Elda Bussinguer, o programa com seis episódios abordará temas centrais e complexos da bioética contemporânea, para além do universo acadêmico, pautados por narrativas verdadeiras e emblemáticas que serão discutidas em profundidade por especialistas de todo o Brasil.
O primeiro episódio será uma entrevista com a antropóloga Débora Diniz acerca do tema aborto. Débora é pesquisadora, professora universitária e documentarista referência internacional na defesa dos direitos das mulheres.
“A SBB é uma sociedade formada por muitos profissionais da saúde que lidam diariamente com esses dilemas. Por isso, a intenção do videocast é justamente mostrar que a discussão desses temas precisam ter abrangência. Queremos ampliar as perspectivas de conceitos preestabelecidos sobre esses assuntos sensíveis”, afirma Elda, doutora em bioética pela Universidade de Brasília (UnB).
Os abortos legais realizados no SUS tiveram aumento de 71% entre 2018 e 2023, segundo dados do Ministério da Saúde. Os procedimentos saltaram de 1.570 para 2.687 casos no período.
O episódio vai partir do assombroso caso da menina de 10 anos que foi estuprada por um tio e teve o direito ao aborto impedido no Espírito Santo e tumultuado em Recife, para onde foi levada pela família. Ela teve a sua identidade vazada e foi descoberta por religiosos, que se manifestaram em frente ao hospital, aos berros, acusando a vítima de ser assassina.
“A nossa conversa será sobre um tema que está socialmente em pauta, na vida cotidiana e no judiciário. Pessoas de todas as classes e esferas têm opiniões sobre aborto. E a Débora Diniz é uma estudiosa sobre o assunto, com reconhecimento internacional por sua atuação nas áreas de bioética, feminismo, direitos humanos e saúde”, destaca Elda.
Além de sua trajetória acadêmica, Débora consolida-se como documentarista, com nove obras lançadas – a maioria abordando a realidade do aborto no Brasil. Seu trabalho mais recente, “Uma Mulher Comum”, ainda inédito para o grande público, vem sendo exibido em circuitos de festivais. O filme acompanha a jornada de uma brasileira que opta por realizar um aborto na Argentina.
Scarleth é uma mulher negra da periferia de São Paulo: esposa de Leonardo, filha de Margarete e mãe de três filhos. Ao descobrir uma gravidez inesperada durante uma transição em seu método contraceptivo, ela se vê diante de um dilema: ‘Não posso ter um quarto filho’. Mas também recusa-se a arriscar na clandestinidade: ‘Preciso de uma saída segura, longe do fantasma da criminalização’. É essa busca por autonomia que a leva à Argentina, descreve Débora, destacando as camadas sociais por trás de uma decisão íntima.
“A bioética é uma ciência transversal sempre polêmica. Partimos da gênese dos grandes dilemas humanos e construímos pontes para o futuro”, explica a doutora Elda, que está em seu segundo mandato na SBB. Os próximos temas já estão definidos: eutanásia, venda de órgãos humanos, teste de medicamentos em animais, combate às mudanças climáticas e transumanismo.
