Dores no corpo, falta de ar ou cansaço extremo. Esses sintomas, muitas vezes atribuídos à ansiedade ou ao estresse, podem indicar condições físicas reais.
De acordo com o neurocirurgião Bruno Burjaili, do hospital Sírio Libanês, é comum que sintomas de depressão e ansiedade apareçam como consequência de doenças que geram dor constante e afetam diversas áreas da vida do paciente.
“Em alguns casos, essas outras doenças estão presentes em paralelo. Mesmo diante de uma depressão mais ‘pura’, a explicação do quadro são também alterações físicas, mas em regiões mais sutis e complexas na profundidade do sistema nervoso”, diz.
Burjaili explica que uma das doenças mais confundidas com transtornos emocionais é a fibromialgia. “Trata-se de uma dor no corpo o tempo todo, ou de um quadro em que regiões diferentes do corpo doem de modo migratório. Existem impactos afetivos, mas isso não deve ser confundido como causa”, explica.
O médico destaca que outras condições, como a síndrome do intestino irritável, a síndrome da bexiga dolorosa e a fadiga crônica, também costumam ser interpretadas erroneamente como distúrbios emocionais.
A demora no diagnóstico e o tratamento inadequado podem piorar a situação, levando a um sofrimento ainda maior. “A fibromialgia, por exemplo, quando não tratada pode sim gerar quadros de depressão e ansiedade mais graves, tornando o tratamento ainda mais complexo”, alerta.
Sinais de alerta e a importância do olhar especializado
A neurologista e neuroimunologista Natália Nasser Ximenes, do Hospital Santa Lúcia, de Brasília, explica que algumas doenças neurológicas também podem provocar alterações de humor como manifestação secundária.
“Depressão pode ser um dos primeiros sintomas da doença de Parkinson, anos antes dos sinais motores, por exemplo. Em casos de demência frontotemporal, podem surgir sintomas como mania, psicose e mudanças de comportamento”, exemplifica.
Outras condições confundidas com sintomas psiquiátricos incluem a esclerose múltipla, que pode causar formigamentos semelhantes a crises de ansiedade, e certos tipos de epilepsia, em que as crises focais se parecem com síndrome do pânico. “Antes de atribuir uma queixa a um transtorno psiquiátrico, é fundamental excluir doenças neurológicas”, reforça.
A reumatologista e médica clínica Cristina Ellert Salomão, que atua em São Paulo, lembra que o estresse pode agravar doenças reais como o lúpus, a psoríase e a alopecia areata. “Isso não quer dizer que ‘vem tudo da cabeça’. Mesmo na ansiedade e na depressão, que são fenômenos emocionais, existem alterações genéticas, bioquímicas e do sistema nervoso central envolvidas”, esclarece.
Quando o diagnóstico não fecha, é hora de investigar mais
Segundo Cristina, quando os tratamentos psiquiátricos não funcionam, é importante investigar se há outros diagnósticos não identificados. “Por exemplo, hipertireoidismo pode causar sintomas semelhantes à ansiedade, e o hipotireoidismo pode levar à depressão. Não se deve apenas prescrever remédios psiquiátricos para tratar síndromes complexas sem uma avaliação clínica adequada”, destaca.
Ela também ressalta que abordagens complementares são essenciais. “Na fibromialgia, é preciso orientar o paciente sobre atividade física, ajustar a postura, considerar fisioterapia. Já na síndrome do intestino irritável, a dieta e o funcionamento intestinal devem ser avaliados”, orienta.
O consenso entre os especialistas é que o corpo e a mente estão intimamente conectados, mas isso não significa que doenças físicas devam ser encaradas como meramente emocionais. O olhar atento e qualificado é essencial para evitar diagnósticos errados e tratamentos ineficazes.
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